L.
Junho 21, 2025
A primeira vez que L. me obedeceu sem hesitar foi com um simples:
“Quero ver os teus seios agora. Se estiveres na rua, vai a um WC e manda uma foto. Depressa.”
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Junho 21, 2025
A primeira vez que L. me obedeceu sem hesitar foi com um simples:
“Quero ver os teus seios agora. Se estiveres na rua, vai a um WC e manda uma foto. Depressa.”
Junho 21, 2025
Maria andava à minha frente, os pés leves sobre a terra molhada. A camisa branca, fina, colava-se-lhe à pele, traçando os contornos do corpo como se quisesse ser arrancada. Quando se virou, o olhar disse mais do que qualquer palavra: queria ser lida, não decifrada.
Junho 20, 2025
há dias em que a alma já não consegue engolir mais silêncio. cada palavra calada é um prego no peito, cada emoção engolida azeda por dentro. escrever não é arte — é instinto. não é para ser bonito, é para não enlouquecer. porque há dores que só se limpam quando escorrem, e verdades que só ganham nome quando sangram no papel.
Junho 19, 2025
quando a claridade rompe e as palavras novamente se espantam é que o fascínio me invade. em noites assim dormidas, a poesia nasce-lhe nos dedos e espalha-se no meu corpo como fogo em ceara de trigo. algumas insónias ou vigilantes inquietudes noturnas acontecem porque a silhueta vermelha do seu corpo se deita comigo, como se um violino ecoasse desejo pelo meu corpo.
amo-a. amo
apesar de estarmos à porta de casa dela e de a iluminação pública impedir qualquer sombra de nos proteger, fiquei excitado, tive vontade de lhe rasgar as meias e fazer amor com ela ali mesmo. perguntou-me:
antes de entrarmos a Maria fechou o casaco, olhou para mim e sorriu:
- Há que evitar falatórios. Não custa nada. No outro café não era preciso.
- Preferias ter lá ido, não é?
- Não! Eu o que prefiro é estar contigo!
não! eu o que prefiro é estar contigo!
não! eu o que prefiro é estar contigo!
não! eu o que prefiro é estar contigo!
sorrimos os dois.
Junho 18, 2025
Acho que, finalmente, aprendi que nem tudo que foge vale o esforço de ser alcançado. Até porque há situações que são reais éguas.
Junho 18, 2025
há vezes em que escrever é só catarse. não tem forma, nem plano, nem beleza. não nasce para ser lido - nasce para ser expelido. é um vómito da alma, um desabafo emocionado que arromba a garganta das palavras e se espalha no papel como quem sangra para sobreviver.
Junho 18, 2025
- Maria, lembras-te de me ter pedido para ver o que está debaixo daquele lençol e de eu ter recusado? – Perguntei. – Faz-me um favor, baixa um pouco a luz.
- Claro que lembro. Eu nunca esqueço uma nega. – Respondeu, com um sorriso, enquanto baixava a luz e deixava o quarto mais frio e mais cinzento. sem sombras e sem arestas.
- Não foi uma nega. Simplesmente não era a altura certa. Tira lá o lençol.
foi visível o ar de desilusão na sua cara quando destapou o misterioso aparelho:
Junho 18, 2025
escrever
não escrevo para refrescar o sangue ou adoçar as mãos, nem sequer para arquear alguma coisa. escrevo numa vã tentativa de sol e também porque preciso de dizer com humildade, à massa de gente que me habita, as minhas palavras. escrevo na tentativa que cada uma dessas pessoas reconstrua aquilo que destruiu.
há dias em que a escrita é uma oração. noutros, é só grito abafado. quase sempre, é o único gesto inteiro que me resta. a única escada - mas mesmo essa é feita de palavras gastas e por vezes falha.
escrevo porque dentro de mim vivem vozes que quebraram coisas que não sabiam nomear - romperam promessas, abandonaram lugares e cuspiram silêncios como quem já não queria ser tocado. escrevo para pôr essas vozes frente ao que deixaram cair.
há dias em que a escrita é uma oração, sim, mas não no sentido religioso, num sentido mais nu - uma súplica sussurrada ao escuro, um gesto de fé em algo que talvez já não exista. uma tentativa de comunhão com o que em mim ainda não desistiu. nesses dias, escrevo de joelhos por dentro.
e sim, noutros dias, a escrita é só grito abafado. não encontra forma, não encontra música. é murro no papel ou soluço interrompido, um ruído espesso que me atravessa sem tradução.
nesses dias, não escrevo para comunicar, escrevo para não explodir.
Junho 17, 2025
Junho 17, 2025