Solidão
Março 31, 2022
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Março 31, 2022
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Dezembro 17, 2021
faltam-me as palavras para descrever o peso de alguns silêncios. para explicar o aperto invisível do ar no meu corpo.
o infinito cresce sem regras e sobra sempre tanto. só a recordação sabe sorrir. mesmo ela desvanece e vai acabar por me abandonar ao vazio. se, primeiro, não me levar aos jardins de fogo onde reinam as sombras.
Nick Cave. lentamente. é isso. no ar, como se os acordes fossem amantes. como se estivessem despidos. a solidão é um paradoxo. uma grande folha em branco e nunca estamos sós em frente a uma.
Março 14, 2021
o teu pescoço é calor e pouco importam as condições meteorológicas: se o céu está azul ou não; se está sol ou não; se chove ou não.
Março 11, 2021
estamos, claramente, na fase "quem não chora, não mama".
Março 11, 2021
não sei como recordas esses momentos nem, sequer, sei se os recordas, mas eram a tua cara de prazer e os teus olhos fechados que me encorajavam e guiavam os gestos. foram eles a tirar-me a mão de dentro da tua camisa e a dizer-lhe para descer. obedeci-lhes. lentamente. dando-te tempo de perceber e autorizar. arqueavas e contorcias o corpo. sorrias. a minha mão chegou ao destino. tocou-o e sentiu o teu deleite através das calças.
Janeiro 26, 2021
gravado em ameias e muros, em pinheiros e areias, o grito mais claro: o sol. como banda sonora da insónia: dedos cruzados na memória e fotografias antigas. estavas ainda mais bonita. todos os versos alguma vez escritos significam que estavas ainda mais bonita. os amplos relâmpagos de brilho no teu sorriso, nesse dia, abriram fogueiras maiores.
estavas ainda mais bonita. cada onda no mar, cada duna no deserto. cada fonte de água fresca nos teus lábios. cada flor que nasce na terra. o caule. as pétalas. és bonita.
Janeiro 23, 2021
do azul?
da tua voz humedecida?
Janeiro 20, 2021
vinhas do mar
olhavas para longe
e seduzias sem saber
ou talvez soubesses
talvez já soubesses
da súbita carícia
no teu sorriso
ou da atração dos lábios
imediato feitiço
rápido e ardente
no sangue insinuante
talvez já soubesses
que tudo ao teu redor desaparecia
- tens um cigarro?
Janeiro 13, 2021
tínhamos procurado o refúgio noturno da praia. fabricávamos o azul. as minhas mãos alternavam entre as cerejas e o muito húmido mar. estávamos tão juntos. entre nós só cabiam a ternura noturna e o azul. e o vermelho. a confusão dos corpos e o ardor do mar. por vezes, o rumor ou a explosão.
a noite estava plena de lua, os seus braços estendiam-se até ao teu rosto e acariciavam-no, abrilhantando-o com reflexos de prata. o teu rosto sob a lua. fulgurante. claro.
as mãos e as vertigens.
a pele.
lembras-te de como as tuas mãos derramavam desejo?
lembras-te de como as tuas mãos derramavam desejo?
sentia-me mais bonito nas tuas mãos. ainda sinto. máquinas do tempo. viajavam-me nas costas imitando uma fera enjaulada, repetindo incansavelmente o percurso entre cada ombro. só o calor do teu corpo tornava real o momento. tudo o resto me parecia sonho: as cerejas no teu corpo; as estrelas refletidas no teu sorriso; as serpentinas azuis; a textura das tuas pernas.
pensávamos ser ilha.
as ondas marcavam o ritmo do corpo. o ritmo do nosso amor. os teus lábios despertavam arrepios em partes que eu não sabia ter. eu mordia, chupava e saboreava as cerejas. segurava-te os braços contra a areia. forçava-te a unir as mãos sobre a cabeça e mantinha-as algemadas com o meu desejo. naquela posição, quando arqueavas de prazer, os teus seios quase rasgavam a camisa e erguiam-se para a noite como que implorando ar.
Janeiro 13, 2021
estou cansado. já não consigo ser. tenho peixes transparentes a nadarem-me na cara e um pequeno pardal aprisionado ao peito, já sem asas. foram cortadas pela ausência. já não danço. há gelo a correr-me no corpo. na pele. está frio.
sinto-me prisioneiro. as estações do ano sucedem-se sem que eu dê por elas, mas está frio.
a música está muito alta. o silêncio também. são cinco da tarde e eu estou deitado. ainda. as paredes são brancas, mas a solidão não. curioso como tantos anos depois são exatamente os mesmos violinos a preencher os mesmos espaços. está frio.
ao contrário do que dizem, escrever é inquietação e adensa a ausência. materializa-a e permite-me tocar-lhe. escrever também pode ser alegria, mas essencialmente é uma forma refinada de masoquismo. eu, pelo menos, sofro quase sempre que escrevo e, no entanto, não paro de o fazer. mesmo com este frio.