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Novembro 26, 2020
amo os corredores que abres no meu corpo e os rios de cristal que te correm entre os lábios – que te navegam entre os lábios como navios leves. o teu fulgurante sorriso é uma cidade acordada. acesa. uma cidade que flutua em recordações. uma cidade de desejo com telhados de furor e ruas abertas entre a tranquilidade e o vermelho. uma cidade em que, em cada janela, há uma mulher a cantar e a beber mel entre cada estrofe, onde, em cada janela, há uma manta estendida a indicar que é aquela a morada do Sol.
todas as noites, sinto-me a solidão a percorrer uma rua até ser de manhã. cambaleante. um tronco à deriva na imensidão. no entanto, basta sonhar a tua silhueta para que peixes, transparentes e brilhantes como vidro, nadem pelas ruas do infinito, protegidos pela densidade do silêncio. nadem alegres. como se dançassem.
não permitas que me escondam o teu corpo. só com ele sei o mundo, só ele me ajuda a dormir. não permitas que me escondam a tua alma. só com ela sei o sonho, só ela me ajuda a respirar.
Y., enquanto as palavras esperam o sono, é a nudez imaginada na imobilidade das imagens que me incendeia o corpo numa fogueira de desejo e os lábios da vontade em gemidos de mar crepitante. sentir-te uma vez é nunca mais conseguir esquecer-te. agora que só as pedras respiram e os teus dedos apenas apertam palavras no ventre esquecido dos versos é o beijo que vejo. agora que navegamos em rios distantes e o teu grito se eleva dos poemas, como se voasses pela minha sombra, é o sorriso que recordo. são inúteis as tentativas, há sempre um qualquer instrumento nas tuas mãos que remexe e reaviva o fogo.