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Dezembro 11, 2020
Tenho todas as saudades possíveis. Todas que existem. Os momentos contigo eram sempre demasiado velozes, mas a todos recordo e todas essas memórias me atravessam com lentidão: os nossos corpos misturavam-se como ondas sinceras e areia. Como relâmpagos claros a caírem na água. No mar. A tua voz. As nossas mãos, cruzadas com a força que tínhamos. Caminhávamos sempre juntos e tudo me parecia uma só coisa. A areia que pisávamos prendia-se aos pés e era azul.
Outra vez o mar. Por vezes ainda o sinto clamar. Oiço a tua voz lá dentro. O meu nome era-te tão fácil. Talvez, hoje, a tua boca seja um reflexo desse mar. Ou talvez sejas tu toda esse reflexo e seja por isso que te trago na pele, no grito e no sangue. Serás sempre azul.
Havia noites de tanto frio, com o vento a uivar e o gelo a entrar, em forma gasosa, como fumo ou névoa, pelas aberturas entre duas peças de roupa e a roçar-se na nossa pele como se pedacinhos de vidro fosse. E nós despíamo-nos e os olhos e os corpos enlaçados derrotavam a borrasca e as rajadas. E a noite fazia-se curta e azul.