.
Dezembro 12, 2020
A aurora não era apenas o separador entre as noites e os dias. O vertical nascer. A alvorada de feirantes e outros trabalhadores madrugadores. Era também o momento em que os nossos lábios abandonavam a feroz luta noturna e se juntavam à meiga e melódica exaustão dos corpos, era também o momento de intenso sossego que sucedia o enérgico serpentear, era o momento de dar alguma paz à sôfrega adolescência.
Era o momento do Sol, tímido, acabado de lançar a primeira luz, sussurrar-nos o adiantado da hora e trazer algum calor atmosférico ao calor gerado pelo atrito da pele de cada um nas mãos do outro.
Naquele momento, era como se eu estivesse em casa, sentado à mesa, a comer uma quente e confortável canja de galinha caseira, porque te tinha nos olhos e o Sol nascia. Lentidão, calor, aconchego. Estar nos teus braços era voltar ao útero da minha mãe e ter-te nos meus era como segurar nas mãos um pequeno pássaro caído do ninho.
As auroras já não eram uma surpresa, sincronizavam a nossa respiração e faziam-te mais azul.