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Janeiro 03, 2019
- são para mim as flores?
olhei para trás. trazias uma manta e uma água com gás. ainda de joelhos, mas já virado para ti, estendi-te a mão e o ramo improvisado:
- desculpa!
- vem comigo!
a tua voz: a melodia. os anjos.
agarraste no ramo e na minha mão. com uma força azul e solar ajudaste-me a levantar. sentir a tua mão era como se as estrelas me agarrassem e me ajudassem a respirar.
os teus braços: a ternura. a proteção.
deste-me a água. a primeira reação foi, assim que a água me tocou no estômago, voltar a vomitar, mas admito que depois desse primeiro impacto me fez muito bem.
não me lembro se era da PSP ou da GNR, mas recordo-me de na tua rua haver um campo de férias de uma qualquer polícia. eu acho que devíamos ter um fetiche qualquer com alpendres, pois a receção do campo tinha um e fomos para lá. estendeste a manta e fizemos dela ninho. deitados lado a lado, costas na manta e de mãos dadas. a noite e as estrelas, o silêncio e o carinho eram companhia. o frio diluíra-se no calor que o teu sorriso insinuante soltava. o ar estava, até, bastante quente. rodaste o corpo, ficaste sobre o meu. os teus olhos brilhavam, imploravam e fixavam os meus. fechaste-os quando a tua boca encontrou a minha. na maravilhosa, simultaneamente descontraída e rígida, elevação no centro do teu corpo, as minhas mãos seguiam o ritmo, ora ávido ora lento, da tua língua dentro da minha boca.
as minhas tonturas desapareceram com o primeiro toque dos teus lábios. o meu sangue era o gemido do teu corpo e as tuas mãos eram, no meu corpo, a fresca e serena fúria dos oceanos. famintas. quase sôfregas. nada em mim lhes escapava.
voltámos a rodar. agora era eu que estava deitado sobre o teu corpo. agarrei-te no pescoço, como se estivesse a estrangular-te, mas sem fazer grande força. apenas a necessária para te manter a cabeça quieta e os olhos fixos nos meus: