C.
Março 29, 2015
Sonhei com um imenso pinhal. Envolto em nevoeiro. Com vulcões a expelir aromas e sabores de Primavera. Com árvores e dunas de ternura. Sonhei-te.
Tenho pena de pouco me lembrar dos sonhos. De certeza que este daria um maravilhoso poema sobre o carinho. É tudo tão pormenorizado. Há sensações que só nos sonhos me são possíveis: ver mulheres com os olhos em chamas, peles de água, dedos de luz e muitas coisas mais. Vejo-as com frequência, mas só a sonhar posso senti-las.
Sonhei que perfuravas o nevoeiro com um vestido de lírios. Que, furtiva, te aproximavas da minha imobilidade. Senti o teu perfume. Olhei, aparvalhado, para os teus gestos. Gestos hipnóticos.
Demos as mãos. Tudo se tornou lento. Só uma coisa foi rápida: o nevoeiro a desaparecer. Já não era no pinhal que estávamos, mas num parque de campismo. Largamo-nos e entre nós, do nada, nasceu uma crepitante fogueira que nos aquecia e te iluminava a nobreza da silhueta.
Seguravas uma orquídea que deixaste cair. Na ânsia de a apanharmos para não arruinarmos o momento – trapalhona – demos uma cabeçada um no outro. Depois de apanhares a orquídea, levantámo-nos, sorrimos e afastámo-nos ligeiramente um do outro; 5cm mais ou menos. Demos, outra vez, as mãos e, muito juntos, olhámo-nos fixamente. Já não estavas com o vestido de lírios, mas numa nudez a preto e branco que me deixou ofegante. Disse-te baixinho:
- Deixa-me beijar-te.
Sorriste levemente e respondeste:
- Viemos acampar juntos, não viemos?
Sim foi o que ouvi. Aproximei-me lentamente e quando os nossos lábios se tocaram senti, fora do sonho, um arrepio percorrer o meu corpo e no sonho vi uma explosão de alegria, promessas e mistérios.
Puxei-te pela mão e levei-te para dentro da tenda. Deitámo-nos por cima dum saco cama. Abraçámo-nos e o que aconteceu a seguir não me lembro, mas deve ter sido bom que acordei muito feliz.