agosto 2011
Agosto 01, 2011
aproveita
e leva contigo
o teu cheiro
que não o aguento mais
a próxima caravela,
tal como eu,
dispensa apresentações
o corpo de uma mulher é para
se saborear como
se saboreiam as cerejas
o infinito escorre-me devagar entre os dedos
em minha casa tenho um canto só meu
uma criança perdida numa grande cidade
é como um pequeno rato num
esgoto imenso
estou muito apertado
aqui sentado
neste lugar
de pedra
e pântanos
vou num comboio de água
para as ruínas de uma cidade antiga
com colunas de carne
no lugar das pernas
e martelos de manteiga nas mãos
não há como fugir do inevitável infinito
se eu tivesse vivido
mais tempo,
tinha acabado
este poema
sou um pássaro, verdadeiro,
mas sem asas e sem bico
deitado num ninho de facas
e espinhos grossos
com neve no peito
e unhas na ponta das penas
escavar invernos na sombra
ter medo de rodas gigantes
esse é o destino dos poetas
tenho ervas daninhas no lugar dos dedos
se pintassem o teu sorriso em todas as árvores
deixaria de haver incêndios
tenho asas
na cara
a fazer lembrar
relógios dobrados,
silentes.
acredito
imensamente
na nudez
das palavras.
o silêncio,
também pode ser
um grande poema?
há sempre os vossos vestígios
nos meus dedos
quando escrevo um poema
há uma claridade perfeita no teu corpo
que ofusca o mundo todo
têm que ser coisas pequenas que isto custa
plutão já não é um planeta
é uma bicicleta enferrujada
ou um cão
que se corre à pedrada
o tempo abraça-o de improviso
e ele chora muito
numa mesa de café muito queimada
sentei-me de improviso num afiado muro de pedra
para escrever um poema,
mas a folha permaneceu virgem demasiado tempo
e eu levantei-me
que pausa me pousou no peito
estou dobrado como ervas à beira lago
insectos desfocados saltitam em silêncio
na superfície da água
de olhos vazios espelhados na água
olho o meu reflexo,
mas não me vejo.
estou só a ver se ainda sei escrever