a crueldade das flores

e o sal verde das águas

são o sangue que alimenta as vespas virgens,

os vampiros vermelhos e a insónia das vozes

um barco de papel numa bacia,

um copo de vidro sobre a mesa,

uma pequena aranha na parede,

um polvo no mar:

todos nada significam.

no mar morto das mãos da metamorfose

mora um peixe prateado e preto

a poesia

é uma mentira,

inventada pelos peixes,

para enganar os incautos.

finge-se bonita e tal,

mas pelas costas,

esfaqueia os distraidos

e pinta de falsidade

o sangue de quem a escreve.

os leitores, esses,

precisam de muito

cuidado nos braços

para não serem enganados.

sei que estás algures

entre as letras e o bolor

do que escrevo

aí no meio da noite

tem que estar o teu corpo:

cheira muito ao teu olhar

os meus dedos

sentem lentamente

a escuridão cruel

da tua pele quando faltas

não sei como limpar

o musgo verde

das crateras e carvalhos

que deixas quando

vais