Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

P. - V

Fevereiro 06, 2018

a magia do momento com a P. perdurava ainda. no ar que respirava; no ar que não respirava. quando, passado algum tempo, me levantei de onde estávamos deitados, me sentei ao lado dela e lhe disse que tinha de ir, a P. apertou-me mais a mão cujos dedos estavam cruzados com os meus há já alguns minutos:

- tenho que ir trabalhar, P.

- tens? – rodou sobre ela própria, sentou-se ao meu colo e olhou-me, como eu já conhecia, com o mundo todo nos olhos. o universo pertence-lhes – com eles a altura das nuvens é curta e a noite menos fria (amo imaginá-los espraiarem-se nos meus quando o rumor dos pássaros desaparece e se acendem as estrelas). colocou as mãos nos meus ombros e empurrou-me com ternura. forçando-me a deitar-me novamente. deitou a cabeça no meu peito. abriu de novo as imponentes asas e disse-me, com voz arrastada, que era pena pois tinha outros planos para nós:

- que planos, meu anjo? – perguntei, adivinhando a resposta.

sentou-se de novo, sorriu ligeiramente e deixou-se deslizar até eu estar novamente dentro de um sonho. tinha os braços esticados e as mãos no meu peito. os dedos: a luz mais limpa, de água. fontes de aves. respiro, toco, desejo. transparentes navios, navegam águas paradas. como gazelas em busca. no meu peito.

 

P. - IV

Fevereiro 06, 2018

a sala onde entrei era muito ampla e estava totalmente vazia. no centro elevava-se, do chão ao teto, uma coluna de fumo nascido sabe-se lá de onde. as paredes eram roxas, o chão era em grandes quadrados de mármore cinzento muito claro, brilhantes e com veios finos, atabalhoados, de um cinzento mais escuro e que formavam um único losango a cada quatro mosaicos. o teto era de um branco imaculado e em de cada um dos cantos pendia um projetor de cor exatamente igual à das paredes.

o fumo ia desaparecendo e no seu lugar ia-se desenhando a magnética silhueta de uma mulher. naquele contorno – pulsar do universo – delineava-se a agitação das marés. havia nele o céu e um jardim.

a nitidez ia aumentando. de baixo para cima. está descalça. olhei para o lado e, novamente como que por magia, a P. já não estava lá – não estava em lado nenhum (tenho tanto para lhe dizer). olhei novamente para o fumo. já consigo perceber que está de saia. afinal é um vestido. curto. é magra. não é um vestido. é uma túnica. branca, larga. tem umas pernas bonitas. o peito a vincar ligeiramente a túnica e a fazer promessas através do tecido. o pescoço como o caule de uma orquídea. fino. fina flor. P.?!

aproximei-me. a P. segurou-me no rosto e, enquanto ela me olhava fixamente, aquilo que logo a seguir eu soube serem umas asas, perfuraram as costas da túnica e abriram-se, majestosas, por trás dela. puxou-me para ela e beijou os meus lábios com a avidez das ondas. a língua dela explorava cada recanto da minha boca. ternurenta e húmida luta.

ao beijar-me, colocou as asas sobre nós como uma tenda. um abraço branco. uma tenda que podia esconder o vento nos moinhos e as ondas na praia, que podia até esconder o ar, mas que não escondia os lírios nem a claridade na pele dela. não escondia o desejo. revelava calor e pela terceira vez: magia. a túnica. se são claros os meus sonhos é porque neles se ergue aquela perfeita nudez e as curvas sossegadas daquele corpo vida que estava à minha frente. lá dentro existia um único problema: o corpo não ter a coragem do sangue como os juncos abraçam a margem mais sombria dos rios.

enquanto os seus lábios combatiam devagar e serenamente com os meus e a sua mão direita se mantinha no meu rosto, senti que a esquerda deslizava. primeiro com suavidade pelo meu pescoço, depois, ao descer o meu braço, agarrava-o e fazia alguma força. conforme ela descia pelo meu braço, um quente tremor acompanhava o movimento e, em total sincronia, descia-me pelas costas, obrigando-me a cerrar ainda mais os olhos, a soltar-lhe os lábios e a inclinar a cabeça para trás. quando chegou à minha mão entrelaçou os dedos nos meus, levantou-me a mão e logo a pousou sobre o próprio corpo despido, por forma a eu sentir o seu descompassado coração. sorri. ao pousar a palma na pele, toquei-lhe levemente com as costas dos meus dedos no peito. um ligeiro sorriso e um suave gemido autorizaram-me a ir mais longe. depois de algum tempo a sentir-lhe o coração, beijei-a ainda mais profundamente e, com requintada sofreguidão, acariciei-lhe um peito. a P., sem tirar a boca da minha, voltou a sorrir e a gemer. o corpo estremeceu-lhe. colou-se a mim. deixou entre nós apenas o espaço necessário ao movimento da minha mão pelo seu corpo. sem palavras, com um novo e quase impercetível gemido, pediu-me que continuasse. depois de me sentir tocar-lhe o outro peito, a P. aumentou a velocidade de tudo e quase me rasgou a camisola tal a voracidade com que me ajudou a despi-la. a ternurenta lentidão inicial era agora a pressa de um animal a fugir do fogo.

o peito da P. gemia no meu. ela abraçava-me, protegia-nos com as asas. com os dedos, cravados nas minhas costas despidas, ia desenhando longos e rápidos rios na minha pele. eu também a abraçava. mãos logo abaixo da saída das asas. puxei-a para mim com alguma força. o seu peito gemeu ainda mais alto. deixei as mãos descerem e peguei-a ao colo. ela recolheu as asas e eu rodopiei de alegria e antecipação.

dei três ou quatro voltas e voltei a pousá-la. fixámo-nos e, de novo, se fizeram lentidão os nossos movimentos e o nosso olhar. as paredes mudaram de cor e eram agora azuis. profundamente azuis. coloquei as mãos nos ombros dela e num suave, mas firme, decidido e rápido movimento virei-a de costas para mim. abracei-a. fundi-me. sobravam-me os dedos e a sombra que projetavam na linha de pétalas que gritava calor, fogo e humidade.

também rápido foi o movimento com que a P. me despiu. já não sabíamos nem queríamos a lentidão. era à velocidade dos furacões que agora ardíamos. encostei-me nela e beijei-lhe os ombros. fui descendo e beijando-lhe as costas (que pele; que suavidade) até estar de joelhos atrás dela. as minhas mãos foram acompanhando a minha descida na parte da frente do seu corpo. seguraram-lhe os gemidos e o peito, deslizaram para a brandura do ventre e, quando já estava de joelhos, os dedos penetraram a pérola vermelha das rosas. subi-lhe de novo aos ombros e, pelo caminho, fui-lhe desenhando nas costas uma estrada de saliva e fogo. já de pé, beijei-lhe, húmida e profundamente, os ombros e o pescoço. sussurrei-lhe:

- Vamos fazer isto?

a voz saiu-me trémula e rouca. a P. deixou cair a cabeça para a frente – quase como se desmaiasse – e com um ligeiro e silente aceno disse que sim.

entrelacei-lhe os dedos no cabelo e puxei-o ligeiramente. fiz apenas a força necessária para que ela voltasse a endireitar a cabeça e arqueasse o corpo. a todos os meus gestos ela correspondia com a carnalidade própria do desejo. ver a P. despida e totalmente entregue ao nosso anseio estava a enlouquecer-me e a excitar-me muitíssimo. naquela nudez poderia escrever-se o deleite do sangue. colei-me ainda mais a ela e, sem lhe largar o cabelo, explorei, com infinita ternura, cada uma das linhas do seu corpo: as costas; as ancas; os flancos; o peito. forcei-lhe um pouco as pernas para que as abrisse e penetrei-a. ambos libertámos naquele momento o gemido que durante anos acumulámos. primeiro lentamente e depois com a velocidade dos vulcões a explodir - e novamente muito lentamente – fizemos amor até detonarmos um violento arrepio que terminou com as minhas lágrimas a caírem-lhe nas costas:

- Que se passa, L.?

- Passa-se alegria.

P. - III

Fevereiro 06, 2018

reencontrar a P., ao fim de tanto tempo, foi como se a primeira gota de água do mar falasse e me explicasse a dança das flores. foi um relâmpago que atravessou as sombras e que, com luz, abriu portas que julgava trancadas e seladas. tinha prometido a mim próprio que não voltaria a abri-las, mas muito rapidamente ela as destrancou e, como que por magia, me transportou para o interior.

lá dentro, as imagens eram nítidas, mas antes de entrar tudo era sombra. tinha o corpo enrolado e estava preso numa apertada jaula de vidro. o ar não entrava. estava despido e não respirava. era como um polvo sem braços. assustado como uivos. o sangue pesava de angústia. tinha frio. tinha medo.

mesmo ao longe: feridas. as veias e artérias eram um confuso labirinto de sombras. uma vermelha canção de lágrimas pelo que podia ter sido ou então escuridão: tatuagens da noite. estava cansado de sentir a transparência frívola das ondas a tombarem sobre o meu cérebro como balas de água.

a solidão é asfixiar a cada instante. não ter a claridade das palavras. música instrumental. são pálpebras cansadas. é o constante perder de batalhas antes que comecem. é estar sempre do lado errado das portas.

apesar de tudo, a solidão já não é nova: já vem do tempo em que eu chorava e os fantasmas verdes voavam no meu corpo. só que antes eu fugia e escondia-me atrás das paredes e hoje já não há paredes suficientemente altas para ocultar o meu cansaço.

nunca mais.

perdido o passado num sonho que não sonhei: resta a voz e a magia. talvez reste um espaço para eu morar: um teto que me permita voar e me proteja do frio; que me proteja das tempestades e que impeça o vento.

Mensagens

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2006
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2005
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2004
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2003
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2002
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D

Autores