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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

nem a maciez rígida das tuas pernas...

Dezembro 29, 2020

nem a maciez rígida das tuas pernas, nem o fresco e azul calor que delas provinha, me prepararam para o misterioso trovão nas minhas costas, provocado pelo nervo da tua virilha a contrair-se na minha mão. depois, desviei a ternura e deixei que os meus dedos te bebessem. arqueaste o corpo. rodeava-nos um azul e frágil silêncio. nesse momento, enquanto bebia na fonte de rosas, estava a beijar-te e senti que engoliste um gemido.

na nossa pele havia ondas.

ondas de fogo e sangue, vertiginosas.

as tuas ancas doces

intimidavam o tempo com o desejo e deslizavam-me nas mãos.  rodei e deixei-me tombar sobre o teu corpo. as tuas mãos exploravam e pressionavam as minhas costas.

és uma gatinha malcomportada...

Dezembro 27, 2020

- és uma gatinha malcomportada, tens que ser castigada. sabes que se eu te cortar a jugular morres em três ou quatro segundos? se eu – a minha mão direita abandonou a exploração que estava a fazer dos teus pelos púbicos, deslizou na tua pele e alojou-se no teu coração -, no entanto, te esfaquear aqui a morte é imediata e indolor. eu preferia golpear-te na barriga. talvez nem morresses e eu pudesse deliciar-me com a tua expressão de dor e com o contorcer do teu corpo comigo dentro dele.

és profundo florir...

Dezembro 23, 2020

és profundo florir

pétala vermelha

caule do meu desejo

flor acabada de nascer

 

és o lume no meu sangue

e a fagulha na minha boca

as asas do meu voo noturno

e o toque azul do céu

 

tens a transparência dos meus sonhos

no silêncio puro

e no sorriso pleno

 

contigo caminho pela memória

e rio e choro

como se um furacão me habitasse

os músculos de um mar que já foi gente

Dezembro 22, 2020

 

[repost - porque me apetece]

 

de carne morta, como se um fantasma vermelho lhe existisse,
a musicalidade obscena de uma mentira virou-me o corpo do avesso.
o sangue pinta-me a pele de tortura e um espectro de chumbo,
verde e nevoento, grotesco como a nudez da morte numa gaveta,
com a força esfíngica de uma tempestade intemporal,
precipita-se sobre a certeza dos meus ombros,
esmagando-me os ossos como se de água fossem.

olho para cima, vejo apenas os músculos de um mar que já foi gente.
gostava de poder falar-lhe ao ouvido,
de lhe contar as aventuras de um pássaro que aprendeu a voar sozinho,
gostava de o abraçar e sintetizar-lhe na pele a fisionomia de uma recordação,
mas o sangue negro que o envolve escapa-se-me entre os braços e o medo,
o assobio de um ramo vestido de sombras
impede que a chama dos ventos cá dentro lhe segredem: calor.

não gosto de começar um verso com a palavra não, mas
não há como fugir ao som desafinado de um não
se entoado pelo vazio no vazio da memória. serás capaz de o entender?
a fuga das marés para a noite arrasta com ela todos os bichos,
mas o regresso das andorinhas ao alvoroço madrugador,
acorda de novo o tridente que tenho cravado nas pernas,
amarra-me ao pesadelo do silêncio e dos contos por acabar.

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