abrem-se as janelas...
Dezembro 29, 2020
abrem-se as janelas
e por elas entra um só
longo raio de chamas
um desejo vermelho
entra um vulcão
um trovão que me olha
e me acorda
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Dezembro 29, 2020
abrem-se as janelas
e por elas entra um só
longo raio de chamas
um desejo vermelho
entra um vulcão
um trovão que me olha
e me acorda
Dezembro 29, 2020
nem a maciez rígida das tuas pernas, nem o fresco e azul calor que delas provinha, me prepararam para o misterioso trovão nas minhas costas, provocado pelo nervo da tua virilha a contrair-se na minha mão. depois, desviei a ternura e deixei que os meus dedos te bebessem. arqueaste o corpo. rodeava-nos um azul e frágil silêncio. nesse momento, enquanto bebia na fonte de rosas, estava a beijar-te e senti que engoliste um gemido.
na nossa pele havia ondas.
ondas de fogo e sangue, vertiginosas.
as tuas ancas doces
intimidavam o tempo com o desejo e deslizavam-me nas mãos. rodei e deixei-me tombar sobre o teu corpo. as tuas mãos exploravam e pressionavam as minhas costas.
Dezembro 27, 2020
não me chegam
as chamas
nem a pedra derretida
pela alma
ou o arquear reflexo
do corpo
nem o fogo me alimenta
perante o orgasmo
das luzes
Dezembro 27, 2020
- és uma gatinha malcomportada, tens que ser castigada. sabes que se eu te cortar a jugular morres em três ou quatro segundos? se eu – a minha mão direita abandonou a exploração que estava a fazer dos teus pelos púbicos, deslizou na tua pele e alojou-se no teu coração -, no entanto, te esfaquear aqui a morte é imediata e indolor. eu preferia golpear-te na barriga. talvez nem morresses e eu pudesse deliciar-me com a tua expressão de dor e com o contorcer do teu corpo comigo dentro dele.
Dezembro 26, 2020
continuei a viagem até encontrar com a boca o húmido e azul calor que tanto ansiava.
Dezembro 26, 2020
soltar gemidos
com o toque
do arrepio
beber as mãos
e o silêncio
dos lábios
avidez
Dezembro 25, 2020
se são claros os dias ou os lagos no teu corpo
é porque neles habitam uma luz vermelha
um grito e o cheiro dos incendiados em amor
Dezembro 24, 2020
é por ti que os rios se apressam para o mar
procuram nele o fulgor do teu rosto
sem saberem que o mar não sabe brilhar igual
Dezembro 23, 2020
és profundo florir
pétala vermelha
caule do meu desejo
flor acabada de nascer
és o lume no meu sangue
e a fagulha na minha boca
as asas do meu voo noturno
e o toque azul do céu
tens a transparência dos meus sonhos
no silêncio puro
e no sorriso pleno
contigo caminho pela memória
e rio e choro
como se um furacão me habitasse
Dezembro 22, 2020
[repost - porque me apetece]
de carne morta, como se um fantasma vermelho lhe existisse,
a musicalidade obscena de uma mentira virou-me o corpo do avesso.
o sangue pinta-me a pele de tortura e um espectro de chumbo,
verde e nevoento, grotesco como a nudez da morte numa gaveta,
com a força esfíngica de uma tempestade intemporal,
precipita-se sobre a certeza dos meus ombros,
esmagando-me os ossos como se de água fossem.
olho para cima, vejo apenas os músculos de um mar que já foi gente.
gostava de poder falar-lhe ao ouvido,
de lhe contar as aventuras de um pássaro que aprendeu a voar sozinho,
gostava de o abraçar e sintetizar-lhe na pele a fisionomia de uma recordação,
mas o sangue negro que o envolve escapa-se-me entre os braços e o medo,
o assobio de um ramo vestido de sombras
impede que a chama dos ventos cá dentro lhe segredem: calor.
não gosto de começar um verso com a palavra não, mas
não há como fugir ao som desafinado de um não
se entoado pelo vazio no vazio da memória. serás capaz de o entender?
a fuga das marés para a noite arrasta com ela todos os bichos,
mas o regresso das andorinhas ao alvoroço madrugador,
acorda de novo o tridente que tenho cravado nas pernas,
amarra-me ao pesadelo do silêncio e dos contos por acabar.