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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

Solidão

Janeiro 09, 2021

a melodia de um rio gelado que nos atravessa o peito, uns olhos que se fecham e o calor de um dedo em círculos leves sobre a face, o bater do coração nas pálpebras que encerram um mar escondido e a luz, interrompida a espaços pela voz distante que canta numa língua estrangeira, suficientemente fraca para iluminar apenas o medo de perder para a minha loucura. é tarde, mas aumento o volume da música até sentir cada nota nas veias, a minha pele treme a cada batida profunda e lenta de percussão, os violinos, a preencher o tempo que sobra (sobra sempre tanto o tempo que falta), uma pausa, para afundar como facas os dedos no corpo, e, novamente, uma voz olímpica, a arrancar-me as lágrimas pelos microscópicos espaços entre a dor e o desejo. depois palavras, cantadas em forma de sussurro, palavras que não compreendo, palavras que ferem o que resta de um corpo adormecido pelo coro vazio da existência. está frio, mas a roupa impede a harmonia entre a pele e o que sinto, rasgo-a, tiras de pano, incendiadas pela fúria, caiem suaves sobre a cera do chão, com elas, e com o início da marcha sonolenta das teclas de um piano, cai também a força que me resta, cai também o espírito e secam-se as lágrimas. sento-me a um canto para lentamente contar os objetos que me rodeiam, chegam-me as duas mãos e volta a sobrar tempo e voltam as cordas a preenchê-lo. a sensação aterradora de câmara lenta, os lentos movimentos que a acompanham, a velocidade a que se sucede o nada, o nada que me prende nesta cela húmida de medos. poderia ter-me deitado mais cedo, mas há algo nesta solidão que me fascina e destrói, tenho primeiro de me perder nestes caminhos cruéis que desenhei e desconheço. o som é desordenado e a melodia desaparece, enrolo a nudez nessa pauta enlouquecida e cravo nas pernas as unhas em feridas fundas e sangram as marcas e sangram os sonhos e grito a dor no corpo para que se esqueça de doer a dor na alma.

tocar brevemente em ti...

Janeiro 08, 2021

tocar brevemente em ti

é como se beijasse longamente

a única ave do planeta

 

é fechar os olhos ao silêncio

 

expulsar a floração do medo

e acender o fogo no coração

 

amo os versos nos teus olhos

 

mesmo sem saber como se dizem

digo-os enquanto forem sol

Romantismo

Janeiro 08, 2021

Romantismo. Pois. Altas, bem morenas, de cabelo curto e pescoço comprido. Saltos altos, pouca roupa e sexo. Muito sexo. Esse é o meu romantismo. Sou um romântico incurável. Bom, também não é bem assim. A sensualidade, não, não me enganei, não é a sexy-alidade, a sensualidade também me agrada bastante. Flores por exemplo. Eu também gosto de flores. Um corpo bonito, nu, numa cama de pétalas. Romântico, não é? E muito sensual. Eu sou romântico, gosto de romances. Romances curtos e pernas compridas.

Solidão

Janeiro 07, 2021

a maior crueldade é quando me acordas, arrepiado de medo, acariciando-me o corpo com unhas afiadas. é de noite, quando me sufocas e obrigas a iluminar o quarto para confirmar que continuas a única presença. é quando me segues pela casa e engoles o som dos meus passos, do ranger das portas e dos interruptores que acendo e apago à minha passagem. o teu silêncio. a maior crueldade é o teu silêncio. manténs-te secreta, caminhas num total mutismo e, como a sombra, a tua aparição é sempre silente, sempre taciturna. a tua aparição, o teu espectro e o teu silêncio. torturantes e sanguinários. sentir-te roubar o som de todas as vozes, é odiar todas as palavras que te definem. saber que afogas o murmúrio de um beijo e, como a noite, o cantar de todos os pássaros, é odiar todas as palavras que te definem. ou talvez o teu peso. talvez a maior crueldade seja o teu peso e a forma como esmagas o meu corpo. a forma como reduzes as dimensões do meu corpo. o meu crânio a poucos centímetros dos meus pés. por causa do teu peso, o meu crânio sobre os meus pés. o teu peso é cruel. sanguinolento. mesmo quando sangrenta, nem a morte é tão tirana.

Mãe - António Ramos Rosa

Janeiro 06, 2021

Conheço a tua força, mãe, e a tua fragilidade.
Uma e outra têm a tua coragem, o teu alento vital.
Estou contigo mãe, no teu sonho permanente na tua esperança incerta
Estou contigo na tua simplicidade e nos teus gestos generosos.
Vejo-te menina e noiva, vejo-te mãe mulher de trabalho
Sempre frágil e forte. Quantos problemas enfrentaste,
Quantas aflições! Sempre uma força te erguia vertical,
sempre o alento da tua fé, o prodigioso alento
a que se chama Deus. Que existe porque tu o amas,
tu o desejas. Deus alimenta-te e inunda a tua fragilidade.
E assim estás no meio do amor como o centro da rosa.
Essa ânsia de amor de toda a tua vida é uma onda incandescente.
Com o teu amor humano e divino
quero fundir o diamante do fogo universal.

António Ramos Rosa

DAQUI

tenho sede de ti...

Janeiro 06, 2021

tenho sede de ti, dos cintilantes relâmpagos, de escorregar no fogo. da tua boca húmida. do orvalho e da tua cama. das tuas mãos afiadas. anseio um dia voltar à ondulação grossa na tua língua e à ausência de tempo que os teus olhos conseguem. anseio voltar a pendurar-me no parapeito das janelas no castelo de trigo dourado. se são lágrimas as palavras é porque chove e a minha sede é imortal. amo-te. quer dizer: amo-te. estou submerso e estico o braço, procuro a tua mão entre a chuva.

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