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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

ESPLANADA DE MEMÓRIA

Março 29, 2023

a luz é atrevida. é como um ladrão ainda adolescente. rouba o vermelho ao toldo para lhe pintar o rosto com as cores do meu desejo. uma imagem imóvel (também o tempo parece parado) destaca as palavras que sangram e permitem ou forçam a navegação de navios transparentes, carregados de recordações. na memória, a combater o silêncio a que me obrigo e a alimentar algumas noites brancas, os seus olhos e a forma como ainda ousam caminhar-me pelo peito. e da imobilidade em silêncio nasce de novo a vontade de me juntar ao sangue.

por trás, passa um rio. um rio negro. um espelho cintilante dos olhos dela. nas suas margens, já dentro de água, à sombra de árvores que cresceram longamente e em sigilo, crianças brincam, descalças, de calções ou calças arregaçadas até aos joelhos, com muitas gargalhadas e gritinhos. mesmo em silêncio, a voz dela confunde-se com a água e com as crianças.

o sol está muito quente. e muito alto. empresta brilho ao céu inteiro. e ao cabelo dela. como se o acariciasse, lança os braços sobre ele e aloira o que é, por norma, escuro. perto dela, o calor do sol sabe a leite com mel. o sorriso, que a veste, também. talvez o sabor do sol venha da profusão de lírios dentro da minha boca sempre que a vejo.

uma vez beijámo-nos e ela ensinou-me a dar nós de gravata. já foi há muitos anos, mas continua a ser a forma mais original que alguém usou para dizer que me ama. é preciso gostar muito de alguém para lhe ensinar a fazer um nó na gravata. eu acho.

ela vem de terras frias e interiores, ainda se nota, tem nas palavras a mesma precisão com que a geada se deposita nas sombras: a mesma inteligência da neve, que escolhe sempre dias frios. não há nela muito mar, mas há muita terra molhada (ai o cheiro) e algumas montanhas – não muito altas, mas totalmente floridas (ai o cheiro).

o conjunto do corpo com o que recordo dele ainda é um incêndio. um dia trago-o para dentro de um poema.

RETRATO DE UM BEIJO

Março 27, 2023

a convicção dos lábios
é a eternidade do sol
e a chama na memória
ou o Olimpo do prazer

há neles qualquer coisa de praia
um misterioso sabor a mar
plenos de luz emergente
e horizontes humildes

entreabertos e marítimos
a caminho da fonte
antecipação das pérolas
são como uma das portas

FLORESTA

Março 25, 2023

vento, vento quente, vento sorridente,

refresca-me o teu sorriso

quando assobias entre os pássaros

e nasces assombro só meu

como se nas tuas mãos

houvesse qualquer coisa de fogo

ou um falcão se lançasse

das copas transparentes do sangue

e em voo picado me atingisse a pele

 

pudessem estas palavras

ter a força das árvores

a sedução das suas sombras

a mesma claridade que há entre as folhas

diante dos rios ou dos espelhos

pudesse a tua voz quebrar todos os meus silêncios

 

24

Março 09, 2023

entretanto, este homem, por exemplo, acabou de roubar uma carteira e, por certo, estará pouco apoquentado com afetos. vem na minha direção. não sei se é bom já estar avisado ou se seria melhor não o estar. eu devia tê-lo denunciado, devia ter saído deste lugar de fraqueza. por outro lado, não sei se faria sentido arriscar a minha tranquilidade pelo conforto de alguém que não conheço. por cobardia, não arrisquei e agora corro riscos. que sangue alimentará esta sombra? haverá algum mar que saiba o seu nome? terá sido a transparência a moldá-lo?
em que é que nos tornámos? 

23

Março 03, 2023

desce, com o brilho do céu. os seus passos são alegres; leves; meio trapalhões; contagiam o resto do corpo para um discreto bailado. o vestido lilás, com uma racha jovial e de alças provocantes, ondula com vigor, como se dançasse ao ritmo de uma música diferente da escutada pelo corpo.

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