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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 8

Maio 26, 2023

a urgência era o elevador ou a escada: a única luz era a dela. talvez por isso a brandura plana na nossa pele e a improvável manta solar que nos protegia e motivava. ela era uma ave incandescente e os meus lábios pena inflamável. estávamos como árvores, no espelho refletia-se o mundo inteiro e ouvia-se nele o prazer – reflexo de uma espécie de eco teimoso: um tremor ou os olhos fechados e o rosto de quem caminha sobre o lume. havia-lhe um qualquer feitiço onde eu deslizava para um lugar de sereno fogo. aqueles candentes locais abrigavam as formas irreverentes da juventude, fortificavam o segredo e estimulavam o prazer do risco. o repetido e seguro interesse nos meus lábios, alongava o verão e guiava as minhas ávidas mãos por irregulares bosques até ao centro do mundo.
por vezes, em agradável voo, um lírio azul passava por nós. ai o cheiro. as pérolas. no espelho e nas minhas mãos. o ventre era-lhe a superfície do mar calmo. os meus dedos espalhavam-se longos nela; navios desgovernados e carregados de desejo. navegavam-lhe pelo corpo até encontrarem um abrigo e lançarem âncora, até o tronco arquear e os trovões se ouvirem. até encontrarem o arrepio. depois, os gestos dela eram azuis, como os lírios voadores, como canções de amor.
o seu rosto, com olhos escuros e curvas insinuantes, prometia mais que prazer e as escadas recebiam-nos com poemas e arriscado silêncio. no entanto, sequiosas melodias logo as transformavam em pontes romanas com o ritmado marchar de treinadas legiões a marcar-nos o compasso aos gestos. era o tempo apressado da coragem sem limites. era o tempo mais impetuoso. no corpo nu, depois do lento rumor, erguia-se um grito silente: farol e fogueira. erguiam-se sílabas e sílabas, até serem verso. erguiam-se múltiplas línguas.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 7

Maio 13, 2023

sentávamo-nos na beira da cama e, separados apenas pela espessura do olhar, com a ternura inclinada sobre nós, cada função era uma luminosa floração de desejo. todos os limites tendiam para a união dos lábios. as derivadas resultavam sempre em tangentes dos corpos e integrávamos sempre um sorriso cada vez que cedíamos ao calor. a matemática era breve e as mãos eram longas. ainda no início, por vezes, os nossos joelhos tocavam-se e, todos os dias como se o primeiro, como se entre eles houvesse uma tempestuosa energia, como se um orgasmo do mar me atingisse, a ondulação ou um arrepio forçava-me a subir ao topo de uma colina, a libertar um gemido silencioso e a arquear disfarçadamente as costas.

tão leves e audazes quanto pensamentos, as minhas mãos caminhavam-lhe então. sem descanso. à sombra de montanhas e primaveras, por grutas e mistérios, chegavam ao topo: acendiam fogueiras. incessantes, voltavam a descer e refugiavam-se em macios abrigos ocultos. eram como predadores famintos e selvagens em uma savana de presas – sem saberem muito bem qual atacar. era um caminho onde não havia pedras. um espaço liso e sem obstáculos à viagem dos sentidos.

o corpo cálido dela era agora uma ilha branca rodeada pelo secreto desejo. no papel, já não havia gráficos de funções. era ela que desenhava o gráfico de funções logarítmicas com as pernas entrelaçadas na minha cintura e havia latidos de cachorros azuis que se lhe repetiam na boca como um impercetível gemido – rumor do prazer – ou como flores a morder a luz e a marcá-la com meias-luas. as pérolas ardiam-me nas mãos e na saliva – eram o lugar mais perto das chamas.

 

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 6

Maio 11, 2023

os lábios dela conseguem lançar as sementes que fazem o trigo nascer dourado – e crescer eternamente. é o seu nome que me veste de alegria quando os dias são de sombra. recordo-lhe a voz permanente:

as palavras continuam

flutuam-lhe entre os lábios

como um desfile de sol apresentado por Deus

considere-se também o corpo: como um anzol a ferir as mãos ou a brilhar e destacar-se em água cinzenta. recordo-lhe a urgência. era um caminho sem fim para a volúpia. apesar de jovem, já tinha a maturidade das estrelas. tal como hoje, era a dança das serpentes.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 5

Maio 02, 2023

a ave com voo azul. a única a cantar nas encostas de silêncio silvestre. a única dentro do branco. ela, azul, como se pássaro de lume, a arder-me: ora nos olhos, ora no sangue.
éramos a pressa da adolescência e sobre nós havia sempre um calor silencioso. havia sempre um mistério a enaltecer-lhe a impiedade do corpo. era-lhe sempre verão nos lábios e no seu quarto soprava um aroma frutado que se concentrava nas mãos, que me separava o sangue da carne e me aumentava a temperatura da pele como se o próprio sol me morasse nas veias. as equações eram sempre uma desculpa e todas as sílabas eram breves, um veloz murmúrio de antecipação. entre cada xis ao quadrado a boca dela procurava uma fogueira ou então era uma fogueira e eu detinha-me no sabor róseo entre aristocráticas derivadas.
os lábios dela conseguem lançar as sementes que fazem o trigo nascer dourado – e crescer eternamente. é o seu nome que me veste de alegria quando os dias são de sombra.

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