#62
Junho 29, 2025
novamente sobre a passagem do tempo.
é curioso que se eu ficar a olhar para o relógio, o tempo parece passar brutalmente mais devagar. se, por outro lado, eu não olhar para o relógio, os minutos voam.
é como se o tempo se divertisse às minhas custas — estica-se, encolhe-se, esconde-se. há dias em que um minuto dura uma eternidade e outros em que horas desaparecem sem deixar rasto. talvez não seja o tempo que muda, mas o modo como o sentimos. aliás, é.
às vezes penso que o tempo não é o que passa, mas o que pesa. pesa quando espero, quando adio, quando tenho medo. e é leve quando me esqueço dele, quando estou inteiro onde estou, sem pressa nem fuga.
há memórias que parecem de ontem e já têm anos. há dores que doem como se fossem agora. há sonhos que ainda não nasceram e já nos consomem.
a passagem do tempo não se mede só em ponteiros — mede-se em ausências, em silêncios, em mudanças que nem demos por ter acontecido.
e talvez seja por isso que escrevo também — para fixar um instante, para tentar agarrar algo que insiste em escorregar. porque às vezes o que escrevo é só um jeito de dizer: eu estive aqui. eu senti isto.
antes que o tempo leve até isso.
publicado às 15:05