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Abril 03, 2016
esta noite sonhei que caminhava despido numa estrada de palha. seguia ladeado por muros e pilhas de entulho - construções do acaso. ao longe, não muito, o rumoroso embater da água nas rochas transformava o silêncio do calor em promessa de frescura. entre o lixo e as paredes (e até ao descampado no final da rua), podiam-se ver gafanhotos de fogo a saltar em euforia - estranho como não incendiavam a estrada: enfim, era um sonho: até as falhas são credíveis.
caminhava lentamente. devagar. quase monotonamente.
apesar de, no sonho, estar a andar há horas, o fim da estrada e o descampado estavam ainda muito longe. por causa das fogueiras que me perseguiam não restava nenhum sal no meu corpo. não importava: a fraqueza que sentia era nos músculos e não no sangue. a estranha e férrea vontade de chegar ao descampado era muito mais forte. nenhuma fogueira era mais vigorosa.
na vida real, provavelmente, teria medo de caminhar assim para o desconhecido. apesar de achar que é o medo que impossibilita a maioria das coisas boas, também acho que as teorias não alimentam. a coragem não é não ter medo. pelo contrário. só tendo medo podemos ter coragem.