#70
Outubro 22, 2025
a solidão tem corpo. ninguém acredita quando digo, mas eu já a vi — imóvel, branca, feita de gelo e silêncio, respirando vapor frio no canto do quarto. não grita, não se anuncia. apenas chega. e o ar, de repente, torna-se espesso, cortante, como se cada inspiração viesse com lâminas escondidas.
move-se devagar, quase elegante, arrastando um silêncio que pesa mais que o próprio corpo. as garras, finas como agulhas de inverno, pousam sobre o meu peito — e ali ficam, sem força visível, mas suficiente para me roubar o fôlego.
é assim que ela me possui: com uma calma glacial que não aceita resistência.