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Janeiro 29, 2012
[do Paulo Horta para a Guida Rei]
nem o silêncio da água cala a claridade que te veste os olhos. recordo-te como a monarquia e como as falésias douradas da nossa serra. o verde das árvores preenche-te as veias e o branco dos relâmpagos pinta a tua pele de música e sons que são nossos. recordo que o meu sangue era de todas as cores quando pela primeira vez aquela vela nos iluminou. o infinito parou e a distância entre o sonho e a realidade era a de um pequeno pavio de luz e gemidos. recordo também a viagem de algodão que fizemos e como sorrimos juntos naquele quarto de papel. quero dizer-te: nem as estrofes de Pessoa afastam os teus olhos dos diamantes salgados que vigiam os meus. nem as rimas de Camões me ajudam a esquecer, por um momento que seja, a tua ausência. se conseguisse escrevia-te um poema, mas todos os versos se perdem nos teus lábios de orquídea selvagem e na recordação que tenho tua. não faz mal. tu és o meu poema. o meu verso. as estrelas que te vestem são as minhas rimas.
sinto muito a tua falta. tenho saudades das pérolas no teu sorriso e das esmeraldas nas tuas mãos. tenho saudades de te dar a mão. sinto falta dos teus braços e da forma como os usavas.
a tua partida deixou um deserto muito árido no meu peito, mas a esperança no teu regresso é um oásis, o único oásis, que me refresca e alimenta. banho-me muito todos os dias nesse cristal.