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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 5

Maio 02, 2023

a ave com voo azul. a única a cantar nas encostas de silêncio silvestre. a única dentro do branco. ela, azul, como se pássaro de lume, a arder-me: ora nos olhos, ora no sangue.
éramos a pressa da adolescência e sobre nós havia sempre um calor silencioso. havia sempre um mistério a enaltecer-lhe a impiedade do corpo. era-lhe sempre verão nos lábios e no seu quarto soprava um aroma frutado que se concentrava nas mãos, que me separava o sangue da carne e me aumentava a temperatura da pele como se o próprio sol me morasse nas veias. as equações eram sempre uma desculpa e todas as sílabas eram breves, um veloz murmúrio de antecipação. entre cada xis ao quadrado a boca dela procurava uma fogueira ou então era uma fogueira e eu detinha-me no sabor róseo entre aristocráticas derivadas.
os lábios dela conseguem lançar as sementes que fazem o trigo nascer dourado – e crescer eternamente. é o seu nome que me veste de alegria quando os dias são de sombra.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 4

Abril 30, 2023

(...)

ela vem de terras frias e interiores, ainda se nota, tem nas palavras a mesma precisão com que a geada se deposita nas sombras: a mesma inteligência da neve, que escolhe sempre dias frios. não há nela muito mar, mas há muita terra molhada (ai o cheiro) e algumas montanhas – não muito altas, mas totalmente floridas (ai o cheiro). antes de cair, a neve passa-lhe pelos lábios e dá-lhes o fulgor necessário ao feitiço universal. dá-lhes a sedutora cintilação das estrelas.

o conjunto do corpo com o que recordo dele ainda é um incêndio. um dia trago-o para dentro de um poema, como se fosse luxuriosa palavra, pecaminoso anseio ou sonho de ternura.

(...)

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 3

Abril 26, 2023

recordo os caminhos.  recordo o cometa vertiginoso que um dia chocou com os meus lábios e, por lá, adormeceu. sei agora que, depois da matemática, todos os céus foram iguais. as estrelas apagavam-se e todos os céus ficavam iguais. nenhum vento, apenas algumas nuvens e, por vezes, um pouco de marulhar. recordo de como os meus braços se juntavam aos dela e, juntos, rodeavam e alimentavam o fogo. juntavam-se em uma luta secreta e caminhavam lado a lado nas descobertas.

invento-lhe o movimento da sombra, para simular a passagem de um tempo que parece parar quando lhe recordo a certeza dos lábios – fontes de frescura, gazelas e vento. é vermelha e provocante a sombra. é lento o movimento. flor seminua. há uma certa pureza e uma certa doçura, normalmente só encontradas em uvas e cerejas, mas que também lhe encontro no corpo – e no aromático vale do prazer –, que intimida os lírios e cristaliza o desejo.

ela é o pássaro que voa no meu quarto e arredonda as minhas noites.

a ave com voo azul. a única a cantar nas encostas de silêncio silvestre. a única dentro do branco.

um pássaro de lume, a arder-me nos ramos.

 

 

28

Abril 21, 2023

tal como esperado, a noite foi agitada. fiz da memória o meu abrigo. o resguardo dos meus desejos. estou sedento e bebo as manhãs que nascem com ela: na claridade do seu corpo despido, no azul mistério. mesmo quando durmo, faz amor com os caminhos tortuosos da minha mente, ama-me com um relâmpago sonhado no corpo, agora contorcido pelo orgasmo. sinto-lhe o latejo do sangue. neste lugar de névoa, acontece sempre o que nunca aconteceu. sinto-a e sei que existe a palavra certa, mas tenho apenas o infinito para ela e pode ser pouco: estou aterrorizado.

27

Abril 07, 2023

creio não haver nada de romântico ou esotérico em passar a gostar mais de alguém em situações de perigo. acredito mais que há causas químicas. em situações de perigo, libertam-se determinadas hormonas no nosso sangue e algumas delas aumentam o nosso estado de alerta, permitindo-nos ver coisas que não víamos antes. acredito que nesses momentos, ao mudar a nossa perceção, mudam as nossas experiências e, consequentemente, muda a nossa memória e o que sentimos. não raras vezes e da mesma maneira, embora não lhe demos muita importância, se passarmos uma situação limite perto de alguém de quem não gostamos, o nosso ódio por essa pessoa aumenta.

26

Abril 06, 2023

estes túneis são as entranhas da indiferença, são a linha de produção que vomita os componentes mais essenciais ao conformismo em que sobrevivemos. as paredes estão cheias de silêncio. absorvem a mudez das centenas de pessoas que aqui passam e expelem apenas agonizantes pedidos de ajuda. são como paredes de borracha, aprisionando almas cuja silhueta se pode notar nelas. no chão podem ver-se as marcas negras dos sonhos deixados cair por uma multidão una e transparente.

25

Abril 05, 2023

acho que vou fechar os olhos e tentar passar por ele quase sem ocupar espaço, como se estivesse a mergulhar no ínfimo lugar entre dois tacos. ele parece estar a morder a vida e deve ser amarga. é agora: vou prender a respiração e deixar de pensar.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 2

Abril 04, 2023

enquanto houver nela o mesmo fulgor entusiasta das flores em abril ou na pressa de março, enquanto a sua voz for um libidinoso contrabaixo a marcar-me o ritmo do bater do coração, o fogo não poderá ser apagado. já passou tanto tempo.
isto tem uma coisa boa, entre outras: o sol nunca desmaia: projeta-se sempre sobre ela, projeta-se sempre sobre o cabelo dela. o brilho no cabelo dela é eterno porque aqui o sol nunca desmaia.
olho para ela e imagino-me um reflexo nos seus olhos. como se estivesse também a olhar para mim. como se estivéssemos juntos e ela estivesse a olhar para mim. como se eu morasse nos seus olhos. olho-a como se estivesse nua. recordo o caminho de liberdade no seu corpo.

ESPLANADA DE MEMÓRIA

Março 29, 2023

a luz é atrevida. é como um ladrão ainda adolescente. rouba o vermelho ao toldo para lhe pintar o rosto com as cores do meu desejo. uma imagem imóvel (também o tempo parece parado) destaca as palavras que sangram e permitem ou forçam a navegação de navios transparentes, carregados de recordações. na memória, a combater o silêncio a que me obrigo e a alimentar algumas noites brancas, os seus olhos e a forma como ainda ousam caminhar-me pelo peito. e da imobilidade em silêncio nasce de novo a vontade de me juntar ao sangue.

por trás, passa um rio. um rio negro. um espelho cintilante dos olhos dela. nas suas margens, já dentro de água, à sombra de árvores que cresceram longamente e em sigilo, crianças brincam, descalças, de calções ou calças arregaçadas até aos joelhos, com muitas gargalhadas e gritinhos. mesmo em silêncio, a voz dela confunde-se com a água e com as crianças.

o sol está muito quente. e muito alto. empresta brilho ao céu inteiro. e ao cabelo dela. como se o acariciasse, lança os braços sobre ele e aloira o que é, por norma, escuro. perto dela, o calor do sol sabe a leite com mel. o sorriso, que a veste, também. talvez o sabor do sol venha da profusão de lírios dentro da minha boca sempre que a vejo.

uma vez beijámo-nos e ela ensinou-me a dar nós de gravata. já foi há muitos anos, mas continua a ser a forma mais original que alguém usou para dizer que me ama. é preciso gostar muito de alguém para lhe ensinar a fazer um nó na gravata. eu acho.

ela vem de terras frias e interiores, ainda se nota, tem nas palavras a mesma precisão com que a geada se deposita nas sombras: a mesma inteligência da neve, que escolhe sempre dias frios. não há nela muito mar, mas há muita terra molhada (ai o cheiro) e algumas montanhas – não muito altas, mas totalmente floridas (ai o cheiro).

o conjunto do corpo com o que recordo dele ainda é um incêndio. um dia trago-o para dentro de um poema.

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