Friedrich Wilhelm Nietzsche
Novembro 27, 2020
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Novembro 27, 2020
Novembro 27, 2020
tens a pele que percorro nos sonhos. a lisura por onde, todas as noites, escorrego até ao campo de tulipas lilases no teu ventre. na difícil espuma da rebentação, na intacta memória e na geometria do corpo, a tua pele é a colher cheia de mel, a estrada lisa que me liga ao amor.
tens a voz que se eleva do mar como se fosse o Sol a nascer no horizonte. sei, pelos arrepios que me provoca, que é a tua voz, mas vejo-a como manta solar ou como eterna fogueira que me arde no sangue. é um mundo de gemidos que me penetra pela mente e ocupa todos os caminhos até ao coração.
é tão óbvio que já deve ter sido dito: lembrar-te no passado, permite-me desejar um futuro contigo presente. no teu sorriso longo, fulgor que vai além do infinito, fica o nascimento. sonho em descer as suas vertentes e navegar nos teus lábios até às margens do teu beijo. por enquanto, tenho apenas o silêncio ardente dos pássaros, a solidão das estrelas e a cruel navegação da saudade no corpo. é silêncio o rumor do mar na geometria do teu sorriso. a única lei que existe é a do teu sorriso, é nele que repousam o infinito e o sonho, é a ele que devemos as serras e a poesia. sem ele eu sei que nada morre, mas os rios secam e o ar rareia, sem ele sobra apenas a cegueira.
em cada um dos teus olhos, permanentes quimeras que o universo desenha na minha cama com dedos de fogo, é possível adivinhar o lume e conseguem-se ver o mar, os rios e a terra molhada.
só nas nuvens se consegue escrever as tuas mãos e apenas no calor é que elas se movem lentas. inerente ao prazer do toque está a tua respiração e a energia que ela transmite e revela aos sismos.
Novembro 26, 2020
amo os corredores que abres no meu corpo e os rios de cristal que te correm entre os lábios – que te navegam entre os lábios como navios leves. o teu fulgurante sorriso é uma cidade acordada. acesa. uma cidade que flutua em recordações. uma cidade de desejo com telhados de furor e ruas abertas entre a tranquilidade e o vermelho. uma cidade em que, em cada janela, há uma mulher a cantar e a beber mel entre cada estrofe, onde, em cada janela, há uma manta estendida a indicar que é aquela a morada do Sol.
todas as noites, sinto-me a solidão a percorrer uma rua até ser de manhã. cambaleante. um tronco à deriva na imensidão. no entanto, basta sonhar a tua silhueta para que peixes, transparentes e brilhantes como vidro, nadem pelas ruas do infinito, protegidos pela densidade do silêncio. nadem alegres. como se dançassem.
não permitas que me escondam o teu corpo. só com ele sei o mundo, só ele me ajuda a dormir. não permitas que me escondam a tua alma. só com ela sei o sonho, só ela me ajuda a respirar.
Y., enquanto as palavras esperam o sono, é a nudez imaginada na imobilidade das imagens que me incendeia o corpo numa fogueira de desejo e os lábios da vontade em gemidos de mar crepitante. sentir-te uma vez é nunca mais conseguir esquecer-te. agora que só as pedras respiram e os teus dedos apenas apertam palavras no ventre esquecido dos versos é o beijo que vejo. agora que navegamos em rios distantes e o teu grito se eleva dos poemas, como se voasses pela minha sombra, é o sorriso que recordo. são inúteis as tentativas, há sempre um qualquer instrumento nas tuas mãos que remexe e reaviva o fogo.
Novembro 24, 2020
escrever-te é muito complicado, meu amor:
o sabor permanece e tropeço no fogo
a cada palavra. a memória da tua boca.
uma paragem: um verso demora o teu cabelo
e um poema é a eternidade da tua pele.
tenho o teu sorriso tatuado nos dedos
e cada palavra o floresce nos meus olhos.
os teus lábios. as tuas mãos acordadas no meu corpo.
é fácil escrever-te.
Novembro 23, 2020
A verdade sobre o amor nunca foi escrita. Nunca poderá sê-lo. São inúteis todas as palavras e símbolos que conhecemos para descrever algo que na realidade não existe em forma alguma. Que existe em todas as formas e não-formas, mas que não existe em forma alguma.
Tudo o que foi escrito sobre o amor são criações. Criações da alma, do espírito e da mente. Criações de poetas, prosadores, pintores, filósofos, psicólogos, sociólogos e profetas. São definições criadas por vós, por mim, por novos e velhos, homens e mulheres. Todos alteramos a definição de amor. Alteramo-la à medida que muda o objeto do nosso amor, alteramo-la através da erudição, da experiência, da religião, do sofrimento e da alegria. Alteramos as definições, mas não alteramos o amor.
Somos tristes por amor, somos felizes por amor, sonhamos por amor e não dormimos por amor. Amamos pais, filhos, irmãos e amigos, livros, cinema, música e teatro, montanhas, florestas, praias e desertos. Amamos pessoas de outro sexo, do mesmo sexo ou de ambos. Amamos uma, duas, três pessoas em separado e ao mesmo tempo também. Amamos o desconhecido, o conhecido, o sonho e a realidade. Amamos deuses, deusas, ninfas, musas, heróis, vilões, monstros, dragões e demónios. Em tudo encontramos amor e tudo pode ser objeto de amor. Experimentem! Escrevam ou pronunciem um nome ou um símbolo, procurem e nele encontrarão Amor.
Porque há amor nas palavras, no silêncio, no mar, na terra, no Sol, na Lua, no dia e na noite: é tudo o amor.
Porque vivemos por e para o amor, porque morremos, matamos, ferimos, curamos e salvamos por amor, pelo amor e no amor: é tudo o amor.
Porque corremos e paramos, compramos e vendemos, lutamos e desistimos, porque há guerras por amor e paz graças ao amor: é tudo o amor.
O amor é sentimento e não-sentimento, é matéria, é espírito e é mente. É forma e não-forma. O amor é tudo e sendo tudo o amor é também o nada.
Será isto o amor? Um Tudo-Nada?
Meu Deus, quão inúteis são estas palavras e todas as nossas dúvidas!
Amar somente.
Novembro 23, 2020
ardes no meu sangue sempre
que faço comprimido das palavras
e sempre as chamas roçam a memória
se tens asas
é porque da tua alma desponta a transparência
ou o vitrificável fulgor
com que me consome o teu fogo durante o silêncio
é porque o teu sorriso vibra como adolescentes
chegas e com o coral que te cresce nos dedos
desenhas-me o sossego no peito
cruzaste a vida e o mar
com a urgência esdrúxula das marés
talvez sejas só um pássaro marítimo
e talvez venhas só de um rumor longínquo
Novembro 22, 2020
deixa que os meus olhos escorram na tua pele
como se fossem uma palavra em busca do verso
nos poemas que em mim escreves com a nudez
deixa que as nossas línguas lutem tresloucadas
como uma explosão de animais loucos e selvagens
nas pautas mágicas que se enchem com a tua voz
regresso à fragilidade e ao fogo da tua pele
como se o infinito fosse a brevidade do fumo
volto à forma que tinhas ao luar
como se o vento fosse e ficasse
Novembro 21, 2020
da lentidão e precisão dos violinos
emerge a imagem parada
e o sangue acelera
com a memória que
o corpo tem do corpo
e a língua de fogo da língua
a imagem é só imagem
e mesmo assim recorda
a silhueta do amor
e a pele
recorda que são lunares
as flores de cabelo
que são solares o toque
e os lábios
Novembro 20, 2020
nunca me canso de procurar um verbo de fogo
capaz de incendiar o teu sangue;
a palavra com dedos de água
capaz de te percorrer e despir:
nem que infinito nos separe ou eu tenha de correr pelos mil cantos do universo, não vou desistir de procurar aquela palavra com a chave do mundo.
nenhuma sombra.
nenhuma pedra.
nada poderá esconder-ma. nem que não venha em dicionários.
talvez esteja escondida entre a espuma e o vermelho.
talvez seja de vidro ou transparente. não importa.
Novembro 18, 2020
eu não quero amar-te
mais do que te amo
ou menos do que te amo
quero amar-te como te amo
como o dia e o sol
como um grito no sangue
uma fogueira na pele
ou um gemido da alma
amo-te
como se fosses noite
e eu estrela acesa no teu ventre
amo-te
entre os murmúrios
e as mãos