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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 4

Abril 30, 2023

(...)

ela vem de terras frias e interiores, ainda se nota, tem nas palavras a mesma precisão com que a geada se deposita nas sombras: a mesma inteligência da neve, que escolhe sempre dias frios. não há nela muito mar, mas há muita terra molhada (ai o cheiro) e algumas montanhas – não muito altas, mas totalmente floridas (ai o cheiro). antes de cair, a neve passa-lhe pelos lábios e dá-lhes o fulgor necessário ao feitiço universal. dá-lhes a sedutora cintilação das estrelas.

o conjunto do corpo com o que recordo dele ainda é um incêndio. um dia trago-o para dentro de um poema, como se fosse luxuriosa palavra, pecaminoso anseio ou sonho de ternura.

(...)

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 3

Abril 26, 2023

recordo os caminhos.  recordo o cometa vertiginoso que um dia chocou com os meus lábios e, por lá, adormeceu. sei agora que, depois da matemática, todos os céus foram iguais. as estrelas apagavam-se e todos os céus ficavam iguais. nenhum vento, apenas algumas nuvens e, por vezes, um pouco de marulhar. recordo de como os meus braços se juntavam aos dela e, juntos, rodeavam e alimentavam o fogo. juntavam-se em uma luta secreta e caminhavam lado a lado nas descobertas.

invento-lhe o movimento da sombra, para simular a passagem de um tempo que parece parar quando lhe recordo a certeza dos lábios – fontes de frescura, gazelas e vento. é vermelha e provocante a sombra. é lento o movimento. flor seminua. há uma certa pureza e uma certa doçura, normalmente só encontradas em uvas e cerejas, mas que também lhe encontro no corpo – e no aromático vale do prazer –, que intimida os lírios e cristaliza o desejo.

ela é o pássaro que voa no meu quarto e arredonda as minhas noites.

a ave com voo azul. a única a cantar nas encostas de silêncio silvestre. a única dentro do branco.

um pássaro de lume, a arder-me nos ramos.

 

 

28

Abril 21, 2023

tal como esperado, a noite foi agitada. fiz da memória o meu abrigo. o resguardo dos meus desejos. estou sedento e bebo as manhãs que nascem com ela: na claridade do seu corpo despido, no azul mistério. mesmo quando durmo, faz amor com os caminhos tortuosos da minha mente, ama-me com um relâmpago sonhado no corpo, agora contorcido pelo orgasmo. sinto-lhe o latejo do sangue. neste lugar de névoa, acontece sempre o que nunca aconteceu. sinto-a e sei que existe a palavra certa, mas tenho apenas o infinito para ela e pode ser pouco: estou aterrorizado.

27

Abril 07, 2023

creio não haver nada de romântico ou esotérico em passar a gostar mais de alguém em situações de perigo. acredito mais que há causas químicas. em situações de perigo, libertam-se determinadas hormonas no nosso sangue e algumas delas aumentam o nosso estado de alerta, permitindo-nos ver coisas que não víamos antes. acredito que nesses momentos, ao mudar a nossa perceção, mudam as nossas experiências e, consequentemente, muda a nossa memória e o que sentimos. não raras vezes e da mesma maneira, embora não lhe demos muita importância, se passarmos uma situação limite perto de alguém de quem não gostamos, o nosso ódio por essa pessoa aumenta.

26

Abril 06, 2023

estes túneis são as entranhas da indiferença, são a linha de produção que vomita os componentes mais essenciais ao conformismo em que sobrevivemos. as paredes estão cheias de silêncio. absorvem a mudez das centenas de pessoas que aqui passam e expelem apenas agonizantes pedidos de ajuda. são como paredes de borracha, aprisionando almas cuja silhueta se pode notar nelas. no chão podem ver-se as marcas negras dos sonhos deixados cair por uma multidão una e transparente.

25

Abril 05, 2023

acho que vou fechar os olhos e tentar passar por ele quase sem ocupar espaço, como se estivesse a mergulhar no ínfimo lugar entre dois tacos. ele parece estar a morder a vida e deve ser amarga. é agora: vou prender a respiração e deixar de pensar.

ESPLANADA DE MEMÓRIA - 2

Abril 04, 2023

enquanto houver nela o mesmo fulgor entusiasta das flores em abril ou na pressa de março, enquanto a sua voz for um libidinoso contrabaixo a marcar-me o ritmo do bater do coração, o fogo não poderá ser apagado. já passou tanto tempo.
isto tem uma coisa boa, entre outras: o sol nunca desmaia: projeta-se sempre sobre ela, projeta-se sempre sobre o cabelo dela. o brilho no cabelo dela é eterno porque aqui o sol nunca desmaia.
olho para ela e imagino-me um reflexo nos seus olhos. como se estivesse também a olhar para mim. como se estivéssemos juntos e ela estivesse a olhar para mim. como se eu morasse nos seus olhos. olho-a como se estivesse nua. recordo o caminho de liberdade no seu corpo.

ESPLANADA DE MEMÓRIA

Março 29, 2023

a luz é atrevida. é como um ladrão ainda adolescente. rouba o vermelho ao toldo para lhe pintar o rosto com as cores do meu desejo. uma imagem imóvel (também o tempo parece parado) destaca as palavras que sangram e permitem ou forçam a navegação de navios transparentes, carregados de recordações. na memória, a combater o silêncio a que me obrigo e a alimentar algumas noites brancas, os seus olhos e a forma como ainda ousam caminhar-me pelo peito. e da imobilidade em silêncio nasce de novo a vontade de me juntar ao sangue.

por trás, passa um rio. um rio negro. um espelho cintilante dos olhos dela. nas suas margens, já dentro de água, à sombra de árvores que cresceram longamente e em sigilo, crianças brincam, descalças, de calções ou calças arregaçadas até aos joelhos, com muitas gargalhadas e gritinhos. mesmo em silêncio, a voz dela confunde-se com a água e com as crianças.

o sol está muito quente. e muito alto. empresta brilho ao céu inteiro. e ao cabelo dela. como se o acariciasse, lança os braços sobre ele e aloira o que é, por norma, escuro. perto dela, o calor do sol sabe a leite com mel. o sorriso, que a veste, também. talvez o sabor do sol venha da profusão de lírios dentro da minha boca sempre que a vejo.

uma vez beijámo-nos e ela ensinou-me a dar nós de gravata. já foi há muitos anos, mas continua a ser a forma mais original que alguém usou para dizer que me ama. é preciso gostar muito de alguém para lhe ensinar a fazer um nó na gravata. eu acho.

ela vem de terras frias e interiores, ainda se nota, tem nas palavras a mesma precisão com que a geada se deposita nas sombras: a mesma inteligência da neve, que escolhe sempre dias frios. não há nela muito mar, mas há muita terra molhada (ai o cheiro) e algumas montanhas – não muito altas, mas totalmente floridas (ai o cheiro).

o conjunto do corpo com o que recordo dele ainda é um incêndio. um dia trago-o para dentro de um poema.

24

Março 09, 2023

entretanto, este homem, por exemplo, acabou de roubar uma carteira e, por certo, estará pouco apoquentado com afetos. vem na minha direção. não sei se é bom já estar avisado ou se seria melhor não o estar. eu devia tê-lo denunciado, devia ter saído deste lugar de fraqueza. por outro lado, não sei se faria sentido arriscar a minha tranquilidade pelo conforto de alguém que não conheço. por cobardia, não arrisquei e agora corro riscos. que sangue alimentará esta sombra? haverá algum mar que saiba o seu nome? terá sido a transparência a moldá-lo?
em que é que nos tornámos? 

23

Março 03, 2023

desce, com o brilho do céu. os seus passos são alegres; leves; meio trapalhões; contagiam o resto do corpo para um discreto bailado. o vestido lilás, com uma racha jovial e de alças provocantes, ondula com vigor, como se dançasse ao ritmo de uma música diferente da escutada pelo corpo.

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