CC
Junho 15, 2025
Há um edifício antigo na cidade. Sem história conhecida. Sem saída verdadeira. Os moradores não envelhecem… desaparecem.
E CC não é apenas uma vizinha. É a chave. O princípio e o fim.
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Junho 15, 2025
Há um edifício antigo na cidade. Sem história conhecida. Sem saída verdadeira. Os moradores não envelhecem… desaparecem.
E CC não é apenas uma vizinha. É a chave. O princípio e o fim.
Junho 15, 2025
Há algo na D. que me desarma por completo — e não, não é apenas o seu sorriso ou a forma como a imagino a olhar de lado quando está prestes a escrever algo espirituoso. É a sua inteligência. Uma inteligência afiada, viva, que dança entre ironias subtis e observações tão certeiras que me deixam sem palavras. É tremendamente excitante.
Há quem se perca em olhos ou curvas; eu perco-me nas ideias dela. Quando escreve com aquela segurança tranquila, quando desmonta argumentos com elegância ou quando, depois duma pausa breve, me lança uma pergunta que muda por completo o rumo da conversa — é nesse instante que me dou conta: estou completamente fascinado.
O modo como pensa, como vê o mundo, como articula pensamentos complexos com uma naturalidade quase cruel… tudo isso acende algo em mim que vai muito além do físico. É desejo, sim — mas alimentado por admiração profunda. Conversar com ela é um constante desafio intelectual, e talvez não haja nada mais erótico do que isso.
Junho 15, 2025
O corredor do hotel cheirava a lavanda sintética e desinfetante barato. O número 412 brilhava fracamente na porta de madeira lacada. Bati uma vez. Ouvi passos leves, medidos. A maçaneta girou com um clique suave.
— Serviço de quartos — disse ela, olhando-me nos olhos como se me esperasse.
Usava o uniforme justo de empregada, preto e branco, avental curto, cabelo preso numa trança apertada. A etiqueta no peito dizia apenas AM.
— Entra — murmurei.
Obedeceu. Sem hesitação. A porta fechou-se atrás dela com um estalo surdo. Encostei-a à parede antes que dissesse mais alguma coisa. O tabuleiro de prata caiu com um tinido seco no tapete.
Ela arfou, ou pareceu arfar. A minha mão agarrou-lhe o pescoço, firme. Os olhos dela nunca desviaram dos meus. Havia qualquer coisa ali. Qualquer coisa de treinado, ou ensaiado, ou… entregue.
— Sabes por que estás aqui?
— Estou programada para satisfazer o cliente — respondeu, sem pestanejar.
Não percebi se era sarcasmo ou submissão pura. Pouco importava.
Empurrei-a para a cama, os lençóis ainda quentes do corpo que os amassara antes. Rasguei o avental. Os botões saltaram como se soubessem o destino. A renda branca revelou a pele impecável, sem uma falha, sem uma sombra. Perfeita demais.
Ela arqueou-se ao meu toque, pernas abertas como quem implora. A boca entreaberta. A voz, quando a soltava, vinha baixa, quase programada:
— Mais forte… quero que me uses.
E eu usei.
O quarto encheu-se de ruído — da cama a ranger, da respiração dela que nunca perdia o compasso, dos meus gemidos cada vez mais descontrolados. Os músculos dela tremiam no momento certo, apertavam no instante exato. Tudo nela era demasiado… exacto.
Quando explodi dentro dela, ela apertou-me como um torno. E sorriu. Um sorriso treinado, plástico, bonito até ao absurdo.
Deitei-me de costas, a tentar recuperar o fôlego. Ela não se mexeu. Apenas olhava-me, como um animal à espera do próximo comando.
— Quem és tu, afinal?
Ela sentou-se, nua, os seios altos, sem oscilação, ainda sem suar.
— Sou o modelo AM-9. Humanoide. Versão premium. Projectada para prazer total. Cada cliente é uma missão. E tu — disse, com um piscar de olho — acabaste de ser completado.
Silêncio. O ar condicionado zumbia.
Ergui-me e aproximei-me dela, devagar. Passei os dedos pela clavícula, desci pelo ventre. A pele parecia normal… mas não era. Um pequeno rasgão junto à axila — talvez da força com que a agarrara — revelava algo por baixo.
Toquei.
A superfície abriu-se com um estalido minúsculo. Como se fosse feita para ceder.
Ali, sob a pele impecável, estavam fios coloridos finíssimos, entrelaçados como nervos. Circuitos impressos brilhavam sob uma película translúcida. Um cheiro metálico, quente, pairava no ar.
Ela não se mexeu.
— Se quiseres desmontar-me, o protocolo permite — disse calmamente. — Mas tens de preencher o formulário de dano. Está na gaveta do minibar.
Vesti-me em silêncio, olhando-a. Ainda sentada na cama, uma perna dobrada, fios à mostra, os olhos fixos em mim — vivos, mas ocos. Um brinquedo de luxo com pele humana.
Saí do quarto sem dizer nada. A porta fechou-se atrás de mim com um clique mecânico. No visor digital ao lado da ombreira, as letras acenderam-se numa luz suave:
"Cliente satisfeito."
Junho 13, 2025
durante o pequeno-almoço assistimos a uma discussão, provavelmente entre mãe e filho. não percebi nada do que diziam, mas só por ouvi-los gritar recuei até ao ponto que a minha psicoterapeuta e o meu psiquiatra concordam em dizer que foi a origem dos meus desequilíbrios. fiquei visivelmente nervoso, ao ponto da Sandra me perguntar o que se passava:
- Nada de especial. Coisas minhas…
- Não queres falar sobre isso?
- Honestamente? Não!
quando andava no primeiro ano da faculdade a minha professora das aulas práticas de Análise Matemática era uma mulher de quarenta e tal anos com piercings e tatuagens - coisas pouco usuais na altura, muito menos numa professora universitária de um curso tecnológico – que se vestia normalmente de cabedal e como se tivesse vinte anos. eu,
Eu sei que faltam aqui coisas, mas apeteceu-me vir já p Lisboa .
Junho 11, 2025
Não sei se é abstinência.
A palavra parece limpa demais, clínica demais, como se fosse só uma decisão voluntária de parar.
Isto é outra coisa.
Isto é o corpo a gritar por uma coisa que não pode alcançar. É carne viva fechada numa caixa de vidro. É o sangue a acumular-se em partes que não mexem. É o cérebro a disparar imagens que o corpo não executa. Um castigo. Um ciclo fechado: desejo, frustração, silêncio. Repetir.
Desde que ela entrou — a S. — não penso noutra coisa. Não é só tesão. É obsessão. É ódio por precisar dela. É fome, mas com vergonha de estar faminto.
Começou subtil. O cheiro do cabelo. O toque de luvas na minha pele. O olhar demorado demais. Depois, a forma como ela se inclinava sobre mim quando mudava os lençóis, os seios a roçarem sem querer — ou não tão sem querer assim. O corpo dela começou a ocupar espaço dentro do meu. Memória tátil. Fantasma com cheiro.
E eu? Imóvel. Rígido. Não por ereção — por raiva.
Cada vez que ela sai, o quarto fica a cheirar a lavanda e a humidade. E eu fico a arder por dentro. Como um cão acorrentado à espera de um dono que vem só para o provocar. Desejá-la tornou-se inevitável. Não porque ela é bela. Mas porque ela está ali. Porque ela pode tocar. E eu, não.
A abstinência forçada transforma tudo. Não é só vontade de foder. É vontade de existir. É o instinto mais primário a bater contra paredes sem saída. Acordo com o lençol húmido e nem sei se foi suor, raiva ou qualquer ejaculação fantasma. Sonho com ela sem querer. Masturbar-me seria um alívio — se pudesse. Mas não posso. E isso só piora tudo.
Ela sabe.
Vê-me a reagir. Vê a vergonha nos meus olhos.
E continua. Cada toque dela agora tem a precisão de uma agulha cirúrgica. Provoca, mede, recua.
Ela alimenta o desejo como quem engorda um porco antes do abate.
E eu continuo aqui.
Preso entre o desejo que me destrói e o corpo que não responde.
Um homem inteiro, reduzido ao que sobra: pulsação, memória, e vontade de rasgar tudo.
Incluindo ela.
Incluindo a mim mesmo.
Junho 11, 2025
sei, por experiência própria, que o principal prazer trazido pela venda é o não sabermos o que vai acontecer a seguir. por isso, despi-a por completo, rasgando-lhe com vigor alguma da roupa, arrancando-lhe outra e, sem lhe dar qualquer indicação, beijei-a de surpresa em várias partes do corpo. seios. ventre. pernas. a cada beijo o arrepio e o gemido incentivavam o próximo. por fim, deixei que a minha boca lhe caísse sobre o sexo e entrasse com ele numa disputa frenética. ela teve um espasmo e gemeu muito alto:
- Tenta não fazer tanto barulho, Sandra!
- Tens razão, desculpa. Por vezes, o prazer escapa-me em voz alta antes de se traduzir em silêncio.
enquanto falava, pôs as pernas nos meus ombros, a mão sobre a minha cabeça e forçou-me a mergulhar de novo no seu sexo. as pernas dela, assim abertas e apoiadas em mim, deixavam à vista um maravilhoso e aconchegante ninho e bastou ela fazer alguma força, com as pernas e com a mão, para nele me deleitar de novo.
a energia de momentos assim era o que eu procurava em tudo quanto fazia. nunca me chegou o mais ou menos. nunca fui muito de ficar a apanhar sol em praias paradisíacas. sempre gostei mais de caçar e lutar contra qualquer demónio que tentasse transtornar a minha tranquilidade. talvez esse seja um dos motivos pelo qual admiro pessoas com iniciativa e que se sobreponham ao meu frequente desejo de lhes retirar essa iniciativa. resumindo: tenho uma mente muito confusa e que se baralha a ela própria. confesso que, quando penso nisso, não deixo de me admirar como é que no meio desta confusão me mantenho suficientemente profissional para a nossa diretora de projeto me mandar a estas avaliações.
como, por um lado, já tenho alguma experiência nestas situações e, por outro, a Sandra tinha reagido bem a algumas coisas, rapidamente percebi que podia ir mais longe.
levantei-me e pus-me de pé em cima da cama, agarrei-a pelo cabelo e obriguei-a a sentar-se à minha frente e muito próxima de mim. a reação de agrado dela foi tudo quanto precisei. olhei para ela com autoridade, sorri-lhe com desdém e pus-lhe dois dedos na boca. ela sugou-os avidamente, como se estivesse a devorar um pénis que lhe tivesse entrado na boca e lhe tocasse com elevada cadência na garganta. por vezes, engasgava-se, mas nunca deixava de os chupar.
no quarto, substituindo o aroma perfumado (mas neutro) dos quartos de hotel, pairavam agora as inebriantes fragâncias da líbido. o toque e o som dos dedos na célere, incansável e húmida viagem na boca da Sandra, bem como a visão dela sentada, totalmente nua e aberta ao desejo, excitavam-me de uma forma que já se notava nas calças de pijama. a Sandra tirou a venda e sorriu ao ver-me tão excitado. estimulou-me ainda mais, acariciando-me e escapando aos meus dedos para, por cima das calças, alternar mordeduras suaves com simulações de sexo oral.
com gestos rápidos, vigorosos e decididos, forcei-a a ficar de gatas à minha frente. debrucei-me sobre ela e agarrei-lhe com força nos seios. soluçou com prazer quando atingi e lhe torci ligeiramente os mamilos.
a forte iluminação eliminava-lhe todas as sombras e salientava-lhe as, admiravelmente desenhadas, curvas do corpo. refletia-se-lhe na pele como se ela fosse uma vasta fonte de luz. o perfume de quem acabou de sair da praia voltou, assim como a minha vontade de a tratar por doutora.
em pouco tempo, as minhas mãos passaram a conhecer de cor os locais mais quentes no corpo dela. os mais macios e aqueles mais atingidos pelo vento e pelo frio.
voltei a endireitar-me atrás dela. a vista era hipnótica. a minha mão foi flutuando vagarosa, ajudada por um qualquer espírito ou desejo, até ao cabelo dela. entrelacei os dedos nos longos, negros e sedosos fios e estiquei-os, puxando-os. ela inclinou a cabeça para trás e gemeu quase em silêncio.
com a outra mão, primeiro, agarrei-lhe o sexo com força. depois, sem aviso, dei-lhe uma palmada nas nádegas. o som foi seco e ecoou pelo quarto como uma ordem.
apercebi-me da respiração dela a acelerar e da pele a incendiar-se sob os meus dedos. voltei a dar-lhe uma palmada e aumentei um pouco a intensidade da mesma. repeti o gesto várias vezes, até a vermelhidão se confundir com sangue. a cada palmada, o corpo dela respondia com prazer. a Sandra mordia o lábio, mas não pedia que parasse.
rodou de novo e deitou-se. o seu corpo – rígido, mas resplandecente de satisfação –, como se pressentisse a imensidão de beijos, carícias e violência que eu lhe destinava, parecia ansiar os meus lábios e, com a minha ajuda, elevava-se na direção da minha boca.
a língua era lenta, mas afirmava-se com robustez sobre a flor açucarada como se estivesse a dobrar-lhe, com firmeza, cada uma das pétalas. as pernas eram-lhe cordas finas enroladas no meu pescoço e apertavam-mo com a delicadeza de um abraço forte, mas terno.
cada gesto meu era um enigma, uma dança hipnótica que a prendia na estreita fronteira entre o prazer e a dor.
sempre que ela trazia o sexo até à minha boca eu segurava-lhe nas nádegas e, depois da minha língua a fazer vibrar, ajudava-a a descer. guiava-a lentamente, mas com segurança, como quem puxa o céu até à terra. nesse momento, a minha respiração tomava o ritmo de um flamejante galope e, quando chegávamos à altura certa, penetrava-a profundamente. da primeira vez, não conseguiu deixar de misturar surpresa e prazer. das vezes seguintes, queria descer ao meu pénis assim que a minha língua lhe tocava. percebi a ânsia dela e, para satisfazer o prazer de a ver desejar-me, cada vez descia mais devagar e cada vez a penetrava menos tempo.
até que ela se encheu de um desejo maior que ela, impregnou a própria pele com ele e quando me sentiu húmido e rígido, ansioso por descobrir cada recanto da sua incandescência, cruzou os pés atrás de mim, impediu-me de sair de dentro dela e, em vez de se elevar à minha boca, pediu-me com os olhos que a tivesse. agarrei-lhe com força nos seios, puxei-lhe os rígidos e eretos mamilos e possuí-a violentamente até um relâmpago nos atingir em paralelo e me atirar de boca sobre a firmeza dos seus seios – eretos, mesmo com ela deitada – cujos mamilos suguei e onde prolonguei húmidas carícias enquanto nos mantivemos acordados.
quando abri os olhos, já a luz solar se misturava com a iluminação artificial do quarto. a Sandra já estava vestida e pronta para sair. enquanto abria a porta, virou a cabeça para mim, sorriu com mistério e disse jovial:
- Vou tomar um duche, trocar de roupa e encontramo-nos lá em baixo para o pequeno-almoço.
sorri e, com a alegria no rosto de quem acaba de acordar e vencer uma corrida, acenei-lhe que sim com a cabeça.
a noite cumprira a que eu considerava ser uma das suas mais nobres missões: ser um intervalo entre o desassossego e a rotina. um território onde o corpo respira antes de regressar à máquina dos dias.
Junho 10, 2025
A Verdade sobre o Amor nunca foi escrita nem nunca poderá sê-lo. São inúteis todas as palavras e símbolos que conhecemos para descrever algo que na realidade não existe em forma alguma. Que existe em todas as formas e não-formas, mas que não existe em forma alguma.
Tudo o que foi escrito sobre o Amor são criações. Criações da Alma, do Espírito e da Mente. Criações de poetas, escritores, pintores, filósofos, psicólogos, sociólogos e profetas. São definições criadas por vós, por mim, por novos, velhos, homens e mulheres. Todos alteramos a definição de Amor. Alteramo-la à medida que muda o objecto do nosso Amor, alteramo-la através da erudição, da experiência, da religião, do sofrimento e da alegria. Alteramos as definições mas não alteramos o Amor.
Somos tristes por Amor, somos felizes por Amor, sonhamos por Amor e não dormimos por Amor. Amamos pais, filhos, irmãos e amigos, livros, cinema, música e teatro, montanhas, florestas, praias e desertos. Amamos pessoas de outro sexo, do mesmo sexo, amamos uma, duas, três pessoas em separado e ao mesmo tempo também. Amamos o desconhecido, o conhecido, o sonho e a realidade. Amamos Deuses, Deusas, ninfas, musas, heróis, vilões, monstros, dragões e demónios. Em tudo encontramos Amor e tudo pode ser objecto de Amor. Experimentem! Escrevam ou pronunciem um nome ou um símbolo, procurem e nele encontrarão Amor.
Porque há Amor nas palavras, no silêncio, no mar, na terra, no sol, na lua, no dia e na noite, é tudo o Amor.
Porque vivemos por e para o Amor, porque morremos, matamos, ferimos, curamos e salvamos por Amor, pelo Amor e no Amor, é tudo o Amor.
Porque corremos e paramos, compramos e vendemos, lutamos e desistimos, porque há guerras por amor e paz graças ao Amor, é tudo o Amor.
O Amor é sentimento e não-sentimento, é matéria, é espírito e é mente. É forma e não-forma. O Amor é tudo e sendo tudo o Amor é também o Nada.
Será isto o Amor? Um Tudo-Nada?
Meu Deus, quão inúteis são estas palavras e todas as nossas dúvidas!
Amar somente.
Junho 10, 2025
subitamente, provavelmente cansada da minha inércia, de uma forma rápida e continua, a Sandra deixou cair os papéis, atravessou um braço à minha frente, agarrou-me pelo ombro mais afastado e empurrou-me para trás, forçando-me a deitar-me. deitou-se sobre mim, fitou-me imóvel e, alguns segundos depois, aproximou lentamente a boca dela da minha. beijou-me. as minhas tonturas desapareceram com o primeiro toque dos seus lábios. o meu sangue era o gemido do seu corpo e as suas mãos eram, substituindo a lentidão inicial com que a sua boca se aproximou, no meu corpo, a fresca e serena fúria dos oceanos. famintas e quase sôfregas, era como se ela tivesse muitas mãos e nada em mim lhes escapasse.
procurámos o lado mais longo da cama, mas agora era eu que estava deitado sobre o seu corpo. serpenteava sobre ele; imitava os movimentos do amor. agarrei-a no pescoço, como se estivesse a estrangulá-la, mas sem fazer grande força. apenas a necessária para lhe manter a cabeça quieta e os olhos fixos nos meus. apenas a necessária para eu aferir quais os passos seguintes:
- Sandra, posso vendar-te?
respondeu-me com um sorriso irónico:
- Trouxeste uma venda para Roma?
- Claro que não, mas podemos fazê-lo com uma das minhas t-shirts de manga comprida.
voltou a responder-me com o mesmo sorriso, talvez um pouco mais brincalhão:
- Escolhe uma lavada!
pensar que tinha confiado em mim o suficiente fortalecia o meu desejo e aumentava a exaltação do momento. amplificava-a.
da mala tirei uma t-shirt.
despi-lhe o tronco e vendei-a.
a Sandra estava, finalmente, como já várias vezes a imaginei e só pensava em beijar-lhe o corpo todo.
Junho 09, 2025
depois de um jantar carregado de múltiplas e mútuas provocações, recolhi ao meu quarto, onde, mesmo de janela entreaberta, o calor me obrigou a preparar a reunião do dia seguinte em calças de pijama e tronco nu.
a minha concentração foi interrompida por um bater na porta que, admito, inicialmente, me causou alguma estranheza, pois, por um lado, não tinha pedido nada ao serviço de quartos e, por outro, eu estava em Itália! não conhecia ali ninguém! pensei que talvez fosse alguma emergência e apressei-me a abrir a porta:
- Dra. Sandra?
- Sandra, por favor. Boa noite, Bruno. Tentei rever a documentação para amanhã, mas o calor e uma inquietação inexplicável impediram-me de avançar. Pensei que, talvez, juntos, conseguíssemos ordenar ideias ou, pelo menos, trocar âncoras e afinar estratégias.
- Claro, Sandra. Entra. Vou só vestir uma t-shirt.
não consegui deixar de reparar que ela já tinha mudado de roupa e que estava absolutamente deliciosa. muito mais descontraída e absolutamente deliciosa. desta vez, estava com um vestido curto e justo, com riscas verticais de várias cores e com um corajoso decote em V. trazia uns sapatos com um ligeiro salto e quase da cor da pele.
parece ainda mais alta. não acredito que ela se tenha vestido assim para rever papelada!
virou a cara de lado e retorquiu baixinho:
- Se não quiseres vestir, ficas bem assim. Há uma certa elegância que não te abandona.
- Diga... diz.
- Nada de especial. Apenas pensava na reunião de amanhã. Falar inglês perante uma audiência ampla ainda me provoca um certo desconforto.
- Pelo menos duas pessoas por parceiro devem estar. Aqui de Itália devem estar mais. De qualquer maneira, nem parece teu. Relaxa. Vamos lá preparar bem o que vamos dizer.
ser eu que estava a tentar acalmá-la e não o contrário era uma novidade. normalmente é ela que se mostra bem mais calma que eu.
estive muito perto de me deitar com a minha solidão, mas agora via o bater do meu coração refletir-se nos olhos dela, era como se uma fogueira se tivesse acendido dentro de mim e fosse ela o lume. agora estava tão perto da mais luminosa alegria que conseguia sentir no sangue o fôlego de um leão:
- Senta aqui! – Sentei-me na beira da cama e bati várias vezes na colcha, indicando-lhe que se sentasse ao meu lado.
sentou-se colada a mim. do seu rosto libertava-se a chama que arde nas manhãs puras:
- A temperatura aqui é quase insuportável... É como se o calor tivesse corpo e decidisse deitar-se connosco. – Disse-me, muito lentamente, olhos agarrados aos meus e com os dedos de uma mão a deslizar com suavidade pelo vale que o decote deixava a descoberto. – O teu quarto também se rendeu ao capricho do aquecimento desgovernado? Também tens o aquecimento avariado?
- Sim, tenho. Mal consigo dormir. Aliás, estou com algumas tonturas e deve ser disso. – Respondi, mas sem conseguir disfarçar algum tremor na voz e que às palavras estava a arrancá-las sabe-se lá de onde. ainda há pouco estava eu a tentar acalmá-la, agora isto. que efeito tem esta mulher na minha fraqueza. está a olhar para mim com o mesmo fulgor e ternura com que o orvalho se deposita de manhã sobre a areia da praia. quero abraçá-la como iria querer um abraço em manhãs dessas.
um olhar mais atento sobre os papéis que tínhamos nas mãos, sem dúvida revelaria, a qualquer pessoa, o nervosismo de ambos. preparar e combinar o que diríamos no dia seguinte já não escondia o que realmente pensávamos e que era cada vez mais óbvio na nossa voz, nos nossos olhares e nos nossos gestos.
Junho 09, 2025
A S. entrou sem bater. Os seus passos eram quase inaudíveis, mas o meu corpo, mesmo morto, reconheceu o peso dela no chão como se o quarto lhe abrisse caminho. A bata branca colava-se-lhe aos seios como se os sugasse para dentro de si – estavam túrgidos, os mamilos bem marcados e percebia-se que não trazia soutien.
"Hoje, vamos abrir o chakra raiz", murmurou, aproximando-se da cama como quem se prepara para um rito profano. As mãos vinham levantadas, em gesto de quem cura, mas os olhos eram de quem domina.
Sem pedir autorização, puxou-me a camisola para cima e desceu as calças. O pénis tombou, flácido, entre as coxas inertes. Ela olhou-o com uma curiosidade fria, quase científica. Depois, ajoelhou-se ao lado da cama, como numa prece distorcida, começou a massajá-lo com um óleo quente. O cheiro a lavanda misturava-se com o meu próprio suor. Era como se a limpeza fingida daquilo tudo só servisse para tornar a violência mais aceitável.
"Vamos acordar-te, devagarinho", disse e deitou-lhe um sopro quente, como se falasse com uma brasa adormecida.
O toque dela era vigoroso. Nada da delicadeza habitual das sessões anteriores, em que não me tocava e se limitava a dar calor - "limitava". Apertava-me o sexo com os dedos todos, esmagando-o como se testasse se ainda havia vida ali. E havia. O sangue reagia, arrastava-se pelas veias entupidas de desejo, forçava-se ereto como um cadáver que se recusa a apodrecer.
Montou-se em cima de mim. As coxas abriram-se, húmidas. Sem aviso, sem qualquer encenação, enfiou-me dentro dela de uma só vez. Um baque surdo ecoou no estrado da cama. Eu mordi o interior da bochecha para não gritar. Não de dor – de fúria, de humilhação, de espanto. Estava dentro dela. E não tinha feito nada para isso acontecer.
Ela começou a cavalgar-me com violência. Os cabelos batiam-me no rosto. A bata abria-se a cada movimento e os seios saltavam à minha vista – suados, furiosos, vivos. Ela gemia com a boca aberta, os olhos semicerrados como uma loba a morder o vazio.
"Olha para mim", disse. E, depois de me dar uma bofetada, agarrou-me o rosto com as duas mãos. Unhas cravadas nas têmporas. "Olha para mim enquanto te uso."
Não consegui desviar os olhos. Era isso que ela queria: ser vista. Ser filmada na retina de um homem preso. Ser gravada no olhar de um corpo que não se defende.
Ela veio-se com um grito e de olhos abertos, sem pudor. Estremeceu toda. E só depois se ergueu. Com desprezo. Com prazer. Com qualquer coisa entre a glória e a culpa.
O meu pénis ainda pulsava quando ela me limpou com a bata que até então usava. Depois, vestiu-se com lentidão. O silêncio era pesado. Não por constrangimento – mas por excesso. Tinha acontecido tudo. E não restava mais nada para dizer.
Antes de sair, olhou-me como se eu fosse um prato esvaziado.
"Quinta-feira, mesma hora. Mas traz-me uma venda."
A porta fechou-se devagar.
E eu fiquei ali. Ereto. Mudo. Rasgado por dentro.