abril 2004
Abril 01, 2004
A m o r t e d a p o e s i a
Uma explosão nuclear na cidade dos sonhos
incendiou até as metáforas mais distantes.
A devastação é enorme, cruel, vermelha
e, de pé, restam apenas algumas sílabas.
Há poemas novos completamente destruídos,
ficções em ruínas a desabar em confidências,
pensamentos submersos em lamas lilases
e frases em sangue rasgadas pelas reticências.
Embora longe deste negro cenário terminal,
o mar chora a morte prematura da poesia
e as suas lágrimas brilhantes são fotões
que tentam desesperados penetrar a treva.
Mas onde houver um rio e um homem vivo,
onde houver mulheres e corpos de cristal,
onde houver desejo e beijos de jasmim,
há também uma fonte de palavras prontas.
Sempre que morre um poeta, nasce uma flor
e das suas pétalas nascem as cores e o orvalho,
e à sua volta nascem as mãos e os sorrisos,
e da alva simbiose, nascerá de novo a poesia.
- mas se aí estás, porque te finges ausente?
- porque estar aqui alguém, não significa eu estar presente.
- mas estás.
- não, está apenas a parte de mim que não existe.
- mas tu existes e estás aí.
- eu existo, mas não aqui.
- então, nunca aí estás?
- eu, aqui, não.