AM
Junho 15, 2025
O corredor do hotel cheirava a lavanda sintética e desinfetante barato. O número 412 brilhava fracamente na porta de madeira lacada. Bati uma vez. Ouvi passos leves, medidos. A maçaneta girou com um clique suave.
— Serviço de quartos — disse ela, olhando-me nos olhos como se me esperasse.
Usava o uniforme justo de empregada, preto e branco, avental curto, cabelo preso numa trança apertada. A etiqueta no peito dizia apenas AM.
— Entra — murmurei.
Obedeceu. Sem hesitação. A porta fechou-se atrás dela com um estalo surdo. Encostei-a à parede antes que dissesse mais alguma coisa. O tabuleiro de prata caiu com um tinido seco no tapete.
Ela arfou, ou pareceu arfar. A minha mão agarrou-lhe o pescoço, firme. Os olhos dela nunca desviaram dos meus. Havia qualquer coisa ali. Qualquer coisa de treinado, ou ensaiado, ou… entregue.
— Sabes por que estás aqui?
— Estou programada para satisfazer o cliente — respondeu, sem pestanejar.
Não percebi se era sarcasmo ou submissão pura. Pouco importava.
Empurrei-a para a cama, os lençóis ainda quentes do corpo que os amassara antes. Rasguei o avental. Os botões saltaram como se soubessem o destino. A renda branca revelou a pele impecável, sem uma falha, sem uma sombra. Perfeita demais.
Ela arqueou-se ao meu toque, pernas abertas como quem implora. A boca entreaberta. A voz, quando a soltava, vinha baixa, quase programada:
— Mais forte… quero que me uses.
E eu usei.
O quarto encheu-se de ruído — da cama a ranger, da respiração dela que nunca perdia o compasso, dos meus gemidos cada vez mais descontrolados. Os músculos dela tremiam no momento certo, apertavam no instante exato. Tudo nela era demasiado… exacto.
Quando explodi dentro dela, ela apertou-me como um torno. E sorriu. Um sorriso treinado, plástico, bonito até ao absurdo.
Deitei-me de costas, a tentar recuperar o fôlego. Ela não se mexeu. Apenas olhava-me, como um animal à espera do próximo comando.
— Quem és tu, afinal?
Ela sentou-se, nua, os seios altos, sem oscilação, ainda sem suar.
— Sou o modelo AM-9. Humanoide. Versão premium. Projectada para prazer total. Cada cliente é uma missão. E tu — disse, com um piscar de olho — acabaste de ser completado.
Silêncio. O ar condicionado zumbia.
Ergui-me e aproximei-me dela, devagar. Passei os dedos pela clavícula, desci pelo ventre. A pele parecia normal… mas não era. Um pequeno rasgão junto à axila — talvez da força com que a agarrara — revelava algo por baixo.
Toquei.
A superfície abriu-se com um estalido minúsculo. Como se fosse feita para ceder.
Ali, sob a pele impecável, estavam fios coloridos finíssimos, entrelaçados como nervos. Circuitos impressos brilhavam sob uma película translúcida. Um cheiro metálico, quente, pairava no ar.
Ela não se mexeu.
— Se quiseres desmontar-me, o protocolo permite — disse calmamente. — Mas tens de preencher o formulário de dano. Está na gaveta do minibar.
Vesti-me em silêncio, olhando-a. Ainda sentada na cama, uma perna dobrada, fios à mostra, os olhos fixos em mim — vivos, mas ocos. Um brinquedo de luxo com pele humana.
Saí do quarto sem dizer nada. A porta fechou-se atrás de mim com um clique mecânico. No visor digital ao lado da ombreira, as letras acenderam-se numa luz suave:
"Cliente satisfeito."