Antítese
Novembro 04, 2004
sem nunca conseguir assimilar-lhes o beijo,
o estômago desordeiro de um pássaro velho
digere as palavras e o vento com ácidos meigos:
o livro vem com a solidão das corujas brancas
e com os brincos de luz e platina da lua,
para ser a companhia no suor dos minutos,
mas com ele prolongam-se também as horas
e o desejo de mais e mais linhas em branco.
na contradição desse silêncio turbulento,
onde nasce a turbulenta fogueira de insónias,
onde crepita a insensatez dourada das sílabas,
os vestidos de tinta e os polvos de papel,
se houver um tornado de areias e luas negras
a ferir de morte as pérolas que restam,
logo o mesmo soprar vermelho se eleva
para iluminar a lentidão das noites
com a pressa iluminada dos dedos.