ESPLANADA DE MEMÓRIA - 10
Junho 09, 2023
certa vez, depois de uma intensa disputa dos corpos, fiquei em total apatia, enquanto lhe contemplava o brilho do rosto. subitamente, despertei dessa letargia e disse-lhe:
- Por vezes, assustas-me!
- O quê? Como assim? – Perguntou, admirada.
- Tanto fulgor no teu sorriso, tanta claridade na tua pele. Chego a duvidar que sejas humana. A cor que agora te cerca parece fazer-te flutuar e salienta a alegria na tua silhueta. Confessa: não és deste planeta, pois não?
- Qual cor, parvinho?
- O amarelo do pólen que libertas!
ambos sorrimos, repousei com suavidade os meus dedos nos seus lábios e deixei que a minha boca caísse lentamente sobre a dela. rapidamente a lentidão se transformou em tempestade e de novo os nossos corpos se entregaram a uma composição de luta e ternura, no entanto silente. um silêncio tão limpo que nele se misturavam o rumor longínquo das ondas e o aroma vibrante a sal. olhando para sul, a subtileza das colunas, enquadrava uma cidade onde todas as ruas eram rio nervoso, onde todas as casas estavam pintadas de vermelho, casas cujas portas se abriam e nunca me negavam refúgio.