ESPLANADA DE MEMÓRIA - 3
Abril 26, 2023
recordo os caminhos. recordo o cometa vertiginoso que um dia chocou com os meus lábios e, por lá, adormeceu. sei agora que, depois da matemática, todos os céus foram iguais. as estrelas apagavam-se e todos os céus ficavam iguais. nenhum vento, apenas algumas nuvens e, por vezes, um pouco de marulhar. recordo de como os meus braços se juntavam aos dela e, juntos, rodeavam e alimentavam o fogo. juntavam-se em uma luta secreta e caminhavam lado a lado nas descobertas.
invento-lhe o movimento da sombra, para simular a passagem de um tempo que parece parar quando lhe recordo a certeza dos lábios – fontes de frescura, gazelas e vento. é vermelha e provocante a sombra. é lento o movimento. flor seminua. há uma certa pureza e uma certa doçura, normalmente só encontradas em uvas e cerejas, mas que também lhe encontro no corpo – e no aromático vale do prazer –, que intimida os lírios e cristaliza o desejo.
ela é o pássaro que voa no meu quarto e arredonda as minhas noites.
a ave com voo azul. a única a cantar nas encostas de silêncio silvestre. a única dentro do branco.
um pássaro de lume, a arder-me nos ramos.