ESPLANADA DE MEMÓRIA - 5
Maio 02, 2023
a ave com voo azul. a única a cantar nas encostas de silêncio silvestre. a única dentro do branco. ela, azul, como se pássaro de lume, a arder-me: ora nos olhos, ora no sangue.
éramos a pressa da adolescência e sobre nós havia sempre um calor silencioso. havia sempre um mistério a enaltecer-lhe a impiedade do corpo. era-lhe sempre verão nos lábios e no seu quarto soprava um aroma frutado que se concentrava nas mãos, que me separava o sangue da carne e me aumentava a temperatura da pele como se o próprio sol me morasse nas veias. as equações eram sempre uma desculpa e todas as sílabas eram breves, um veloz murmúrio de antecipação. entre cada xis ao quadrado a boca dela procurava uma fogueira ou então era uma fogueira e eu detinha-me no sabor róseo entre aristocráticas derivadas.
os lábios dela conseguem lançar as sementes que fazem o trigo nascer dourado – e crescer eternamente. é o seu nome que me veste de alegria quando os dias são de sombra.