ESPLANADA DE MEMÓRIA - 7
Maio 13, 2023
sentávamo-nos na beira da cama e, separados apenas pela espessura do olhar, com a ternura inclinada sobre nós, cada função era uma luminosa floração de desejo. todos os limites tendiam para a união dos lábios. as derivadas resultavam sempre em tangentes dos corpos e integrávamos sempre um sorriso cada vez que cedíamos ao calor. a matemática era breve e as mãos eram longas. ainda no início, por vezes, os nossos joelhos tocavam-se e, todos os dias como se o primeiro, como se entre eles houvesse uma tempestuosa energia, como se um orgasmo do mar me atingisse, a ondulação ou um arrepio forçava-me a subir ao topo de uma colina, a libertar um gemido silencioso e a arquear disfarçadamente as costas.
tão leves e audazes quanto pensamentos, as minhas mãos caminhavam-lhe então. sem descanso. à sombra de montanhas e primaveras, por grutas e mistérios, chegavam ao topo: acendiam fogueiras. incessantes, voltavam a descer e refugiavam-se em macios abrigos ocultos. eram como predadores famintos e selvagens em uma savana de presas – sem saberem muito bem qual atacar. era um caminho onde não havia pedras. um espaço liso e sem obstáculos à viagem dos sentidos.
o corpo cálido dela era agora uma ilha branca rodeada pelo secreto desejo. no papel, já não havia gráficos de funções. era ela que desenhava o gráfico de funções logarítmicas com as pernas entrelaçadas na minha cintura e havia latidos de cachorros azuis que se lhe repetiam na boca como um impercetível gemido – rumor do prazer – ou como flores a morder a luz e a marcá-la com meias-luas. as pérolas ardiam-me nas mãos e na saliva – eram o lugar mais perto das chamas.