Fotografias
Agosto 25, 2024
I
a imagem do teu corpo
é a lâmina matinal que
fura as minhas noites
com o alvoroço das aves
regresso ao teu corpo
e à sua leveza nubígena
vejo-te dançar
na água
antes dos violinos
II
centrípeta
e imagem parada de uma violeta
deitada sozinha
nas cinzas do calor pleno
III
as várias tonalidades
do hábil jogo de luzes
eliminam as sombras
IV
entre o sorriso e o inebriante mistério:
um corpo de água e o alegre reflexo do sol
V
a claridade e o brilho
comovem a noite
e tanta cor assim
terá sido realçada pelo clarão
VI
entre o mar e as rochas
ergue-se a silhueta dourada e o sorriso
a lembrar que as estrelas existem
VII
na atenção à suavidade e ao reflexo
quase se perde a obliquidade do azul
e a sinceridade das fibras
a harmonia azul da pele é como um feitiço
e abre uma porta ou grito para o meu desejo
VIII
a névoa não esconde o equilíbrio e fulgor do corpo
é como se um sonho chegasse lento e o abraçasse
na mesma forma azul que o mar tem para os barcos
talvez seja como se a neblina lhe prolongasse o beijo
não é fácil reparar que também há flores e água
ou notar os espelhos junto ao coração do sol
quando a pulcritude domina e a nudez é sonhada
IX
a imagem são imagens:
uma flor que dança frenética de noite
com pétalas que cintilam e gritam alegria
em antevisão das serras e da serenidade
os olhos
hemiciclos de cintilação
ou naturais difusores da alma
são livros
e tudo parecem saber
é óbvio:
ainda não tinham inventado o fogo
eram só matéria alucinações e claridade:
a imagem são imagens
X
como se estivessem em uma nuvem
a claridade e a sinceridade do sorriso
competem com o falso descuidado
pela atenção e alerta do desejo
como se uma porta tivesse sido aberta por acidente
e um vento fogoso se espalhasse por toda a sala
ou do vale ao ninho um rio de lava corresse tumultuoso
reflexos de luxúria em flor inundam o meu sangue
sobram da agitação a cidade vermelha e a vertigem
salvam-se e destacam-se a lascívia involuntária
e os olhos hipnotizantes que a tudo derretem
resta a total consciência da sedução e a poesia
continua... (eventualmente)