GRITO
Janeiro 24, 2012
De ti que inventastea paza ternurae a paixãoo beijoo beijo fundo intenso e loucoe deixaste lá para trása côncava do medoà hora entre cão e loboà hora entre lobo e cão.De ti que em cada anocada dia cada mêsnão paraste de acenderuma e outra veza flor eléctricado mais desvairadocoração.De ti que fugiste à estepee obrigasteà ordem dos caminhoso pastora cabra e o boie do fundo do tempome chamaste teu irmão.De ti que ergueste a casasobre estacase paristedeuses e linguagensguerrase paisagens sem alento.De ti que domasteo cavalo e os neutrões e conquistasteo lírico tropeldas águas e do vento.De ti que traçastea régua e esquadrouma abóboda inquietasemeada de nuvens e tritõessantidades e tormentos.De ti que levastea volupta da ambiçãoa trepar erectacontra as leis do firmamento.De ti que deixaste um diaque o teu corpo se cansasssedesta terra de amargura e alegriae se espalhasse aos quatro cantosdiluido lentamenteno mais plácidosilentee negro breu.De timeu irmãoainda ouçoo grito que deixasteencerradoem cada pétala do céucada pedracada flor.O grito de revoltaque largaste à soltae que ficou para sempreem cada grão de areiaa ressoarcomo um pálido rumor.O grito que não cansade implorarpor amore mais amore mais amor. José Fanha, in "Breve tratado das coisas da arte e do amor"