março 2004
Março 01, 2004
Nasce
o tempo
e o rio
na nascente
da vida,
navega
um barco
no rio
e eu rio-me
ao leme
e corre o tempo
e corre a tempo
de lá chegar.
E vai o barco
e vai a vida
e volta louca
por lá voltar
mas vem a morte
e vem a tempo
e vem do rio
e vem no barco
e vai a vida
e fica o tempo
e morre o rio.
i n s ó n i a
tudo o que ficou por fazer,
está vivo esta noite no fantasma
que me habita o corpo despido.
o chão, de madeira encerada,
recolhe-me e faz-se cama,
enterro as unhas nos espaços entre os tacos
e sangro vontades,
mutilo desejos desordenados.
sou uma sombra nocturna
do sol que ardia na fonte das ambições,
nessa fonte que se recusa a secar
mesmo sabendo que a água não salva.
olho para cima e revejo-me no branco,
no vazio que impede a chuva de entrar.
sou eu, ali em cima, uma mentira,
branca,
vazia.
espalho os membros pela sala,
eis-me, um polvo de mil braços,
que se atrapalham na hora de comer.
R e s p i r a r t r ê s v e z e s
a ressaca da tua presença
é uma pedra enrugada
que engulo e vomito
num ciclo de dor e frémitos verdes
que apenas me abandonam
quando voltas para me beijar
e abraçar com os teus ramos
pulmonares que me sustentam
e ensinam a respirar.
*
vivo na tua infinita metamorfose
entre o mar e a terra
entre a terra e o mar
entre o meu corpo e o teu.
*
há palavras que morrem
sempre que te escrevo um poema.