P. - IV
Fevereiro 06, 2018
a sala onde entrei era muito ampla e estava totalmente vazia. no centro elevava-se, do chão ao teto, uma coluna de fumo nascido sabe-se lá de onde. as paredes eram roxas, o chão era em grandes quadrados de mármore cinzento muito claro, brilhantes e com veios finos, atabalhoados, de um cinzento mais escuro e que formavam um único losango a cada quatro mosaicos. o teto era de um branco imaculado e em de cada um dos cantos pendia um projetor de cor exatamente igual à das paredes.
o fumo ia desaparecendo e no seu lugar ia-se desenhando a magnética silhueta de uma mulher. naquele contorno – pulsar do universo – delineava-se a agitação das marés. havia nele o céu e um jardim.
a nitidez ia aumentando. de baixo para cima. está descalça. olhei para o lado e, novamente como que por magia, a P. já não estava lá – não estava em lado nenhum (tenho tanto para lhe dizer). olhei novamente para o fumo. já consigo perceber que está de saia. afinal é um vestido. curto. é magra. não é um vestido. é uma túnica. branca, larga. tem umas pernas bonitas. o peito a vincar ligeiramente a túnica e a fazer promessas através do tecido. o pescoço como o caule de uma orquídea. fino. fina flor. P.?!
aproximei-me. a P. segurou-me no rosto e, enquanto ela me olhava fixamente, aquilo que logo a seguir eu soube serem umas asas, perfuraram as costas da túnica e abriram-se, majestosas, por trás dela. puxou-me para ela e beijou os meus lábios com a avidez das ondas. a língua dela explorava cada recanto da minha boca. ternurenta e húmida luta.
ao beijar-me, colocou as asas sobre nós como uma tenda. um abraço branco. uma tenda que podia esconder o vento nos moinhos e as ondas na praia, que podia até esconder o ar, mas que não escondia os lírios nem a claridade na pele dela. não escondia o desejo. revelava calor e pela terceira vez: magia. a túnica. se são claros os meus sonhos é porque neles se ergue aquela perfeita nudez e as curvas sossegadas daquele corpo vida que estava à minha frente. lá dentro existia um único problema: o corpo não ter a coragem do sangue como os juncos abraçam a margem mais sombria dos rios.
enquanto os seus lábios combatiam devagar e serenamente com os meus e a sua mão direita se mantinha no meu rosto, senti que a esquerda deslizava. primeiro com suavidade pelo meu pescoço, depois, ao descer o meu braço, agarrava-o e fazia alguma força. conforme ela descia pelo meu braço, um quente tremor acompanhava o movimento e, em total sincronia, descia-me pelas costas, obrigando-me a cerrar ainda mais os olhos, a soltar-lhe os lábios e a inclinar a cabeça para trás. quando chegou à minha mão entrelaçou os dedos nos meus, levantou-me a mão e logo a pousou sobre o próprio corpo despido, por forma a eu sentir o seu descompassado coração. sorri. ao pousar a palma na pele, toquei-lhe levemente com as costas dos meus dedos no peito. um ligeiro sorriso e um suave gemido autorizaram-me a ir mais longe. depois de algum tempo a sentir-lhe o coração, beijei-a ainda mais profundamente e, com requintada sofreguidão, acariciei-lhe um peito. a P., sem tirar a boca da minha, voltou a sorrir e a gemer. o corpo estremeceu-lhe. colou-se a mim. deixou entre nós apenas o espaço necessário ao movimento da minha mão pelo seu corpo. sem palavras, com um novo e quase impercetível gemido, pediu-me que continuasse. depois de me sentir tocar-lhe o outro peito, a P. aumentou a velocidade de tudo e quase me rasgou a camisola tal a voracidade com que me ajudou a despi-la. a ternurenta lentidão inicial era agora a pressa de um animal a fugir do fogo.
o peito da P. gemia no meu. ela abraçava-me, protegia-nos com as asas. com os dedos, cravados nas minhas costas despidas, ia desenhando longos e rápidos rios na minha pele. eu também a abraçava. mãos logo abaixo da saída das asas. puxei-a para mim com alguma força. o seu peito gemeu ainda mais alto. deixei as mãos descerem e peguei-a ao colo. ela recolheu as asas e eu rodopiei de alegria e antecipação.
dei três ou quatro voltas e voltei a pousá-la. fixámo-nos e, de novo, se fizeram lentidão os nossos movimentos e o nosso olhar. as paredes mudaram de cor e eram agora azuis. profundamente azuis. coloquei as mãos nos ombros dela e num suave, mas firme, decidido e rápido movimento virei-a de costas para mim. abracei-a. fundi-me. sobravam-me os dedos e a sombra que projetavam na linha de pétalas que gritava calor, fogo e humidade.
também rápido foi o movimento com que a P. me despiu. já não sabíamos nem queríamos a lentidão. era à velocidade dos furacões que agora ardíamos. encostei-me nela e beijei-lhe os ombros. fui descendo e beijando-lhe as costas (que pele; que suavidade) até estar de joelhos atrás dela. as minhas mãos foram acompanhando a minha descida na parte da frente do seu corpo. seguraram-lhe os gemidos e o peito, deslizaram para a brandura do ventre e, quando já estava de joelhos, os dedos penetraram a pérola vermelha das rosas. subi-lhe de novo aos ombros e, pelo caminho, fui-lhe desenhando nas costas uma estrada de saliva e fogo. já de pé, beijei-lhe, húmida e profundamente, os ombros e o pescoço. sussurrei-lhe:
- Vamos fazer isto?
a voz saiu-me trémula e rouca. a P. deixou cair a cabeça para a frente – quase como se desmaiasse – e com um ligeiro e silente aceno disse que sim.
entrelacei-lhe os dedos no cabelo e puxei-o ligeiramente. fiz apenas a força necessária para que ela voltasse a endireitar a cabeça e arqueasse o corpo. a todos os meus gestos ela correspondia com a carnalidade própria do desejo. ver a P. despida e totalmente entregue ao nosso anseio estava a enlouquecer-me e a excitar-me muitíssimo. naquela nudez poderia escrever-se o deleite do sangue. colei-me ainda mais a ela e, sem lhe largar o cabelo, explorei, com infinita ternura, cada uma das linhas do seu corpo: as costas; as ancas; os flancos; o peito. forcei-lhe um pouco as pernas para que as abrisse e penetrei-a. ambos libertámos naquele momento o gemido que durante anos acumulámos. primeiro lentamente e depois com a velocidade dos vulcões a explodir - e novamente muito lentamente – fizemos amor até detonarmos um violento arrepio que terminou com as minhas lágrimas a caírem-lhe nas costas:
- Que se passa, L.?
- Passa-se alegria.