P. - V
Fevereiro 06, 2018
a magia do momento com a P. perdurava ainda. no ar que respirava; no ar que não respirava. quando, passado algum tempo, me levantei de onde estávamos deitados, me sentei ao lado dela e lhe disse que tinha de ir, a P. apertou-me mais a mão cujos dedos estavam cruzados com os meus há já alguns minutos:
- tenho que ir trabalhar, P.
- tens? – rodou sobre ela própria, sentou-se ao meu colo e olhou-me, como eu já conhecia, com o mundo todo nos olhos. o universo pertence-lhes – com eles a altura das nuvens é curta e a noite menos fria (amo imaginá-los espraiarem-se nos meus quando o rumor dos pássaros desaparece e se acendem as estrelas). colocou as mãos nos meus ombros e empurrou-me com ternura. forçando-me a deitar-me novamente. deitou a cabeça no meu peito. abriu de novo as imponentes asas e disse-me, com voz arrastada, que era pena pois tinha outros planos para nós:
- que planos, meu anjo? – perguntei, adivinhando a resposta.
sentou-se de novo, sorriu ligeiramente e deixou-se deslizar até eu estar novamente dentro de um sonho. tinha os braços esticados e as mãos no meu peito. os dedos: a luz mais limpa, de água. fontes de aves. respiro, toco, desejo. transparentes navios, navegam águas paradas. como gazelas em busca. no meu peito.