São tantos os sabores que experimento em teu corpo, que chego a pensar serem sonhos os paladares deste amor louco. De costas para o meu prazer, o teu volume de serpente provoca o meu querer e concede-me o espaço e o tempo que preciso. Oiço os aromas da tua pele a fantasiarem as canções selvagens que o teu espírito imprime a este congregar de emoções desordenadas e permito que os meus lábios dancem no teu pescoço de cisne ao som das melodias que os meus dedos ensaiam no teu ventre. Voltas-te, e as duas pérolas que te adornam o coração, beijam o meu peito num generoso poema de palavras meigas, são toques de frescura esses toques ministrados por tão preciosas serras de seda. Depois o beijo e aquele arrepio que quando os nossos lábios se tocam percorre todo o meu corpo paralisando-o. Por momentos, os sentidos adormecem e perco o sentido das coisas. Por momentos perco a força, as armas e os escudos. Por momentos, sonho e sou sonho, perco a memória, os medos e as recordações. Por momentos, sinto-te entrar no meu corpo e usar o meu sangue para distribuir pela intimidade a poção mágica que transforma os sonhos na realidade que se confunde com o próprio sonhar. Embalados pela insensatez da ternura, caiem-me os braços para que possam as mãos dedicar-se à vontade da alquimia que nos une para além da comprensão da mortalidade. O áspero toque de linho que veste os meus dedos, percorre cada pormenor do mar imenso que dorme nas tuas costas e mergulha em cada onda que alcança. Arqueias o corpo, fugindo ao beijo que nos unia e de olhos penetrantes anuncias o teu desejo. Ajoelho-me perante tão divina súplica, mas faço-o também porque me move uma sede secreta de ti. De braços abertos, acorrentado às colunas de ouro que suportam o palácio onde habita o meu deleite, olho a fonte que me dará de beber e, guiado por papoilas vermelho desejo, inclino-me para saciar o deserto com a água feita cristal que veste e aquece esse secreto que tanto anseio. Tremem as outrora sólidas colunas que te sustentam, pequena gigantesca árvore do prazer, tremem ao toque do meu íntimo desejo de te beber até me afogar na água que te escorre pelas pernas, até me afogar no calor do teu sangue, até me afogar e sufocar preso entre as chamas e o incêndio e. Deitas-te. Dispo-te de todas as pétalas do teu corpo e vejo a serpente arquear-se incessantemente no leito do desejo. Não se possui uma serpente do mesmo modo que. Falta-me o ar quando com as mãos. E regresso. Espalho a minha pele sobre a tua pele. Estamos unidos, vestidos pela mesma música. Sincronizados com o bater do coração do mundo que já não existe. Envolve-me o calor do sol que plantas no peito sempre que amanheces para mim. Os teus olhos cor de ti partem do espaço que já não ocupamos e gritam-me aos ouvidos palavras com a textura da volúpia ao mesmo tempo que raios de lua me ajudam a chegar ao lado mais profundo da lua. Somos um só sabor, uma só musica, um só grito, um só perfume e um só corpo. Sou-te. És-me. Amo-te.
(n sei a data certa, m é de Janeiro de 2003)
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