segredos *
Julho 31, 2004
chegam-me sempre primeiro as palavras que o sono. na grande maioria das vezes, chegam desordenadas, chegam como se um furacão ancestral as embrulhasse num sudário de aço e as libertasse, a todas, de uma só vez, sobre a falésia húmida e sem fundo da insónia. não servem para nada as palavras assim molhadas. colam-se umas nas outras como aves incompreensivelmente distribuídas pelo vazio do céu, colam-se umas nas outras pela ordem errada, como aves incompreensivelmente vazias de céu.palavras que são como os apeadeiros onde os comboios não param nunca. palavras que são como crianças que namoram sozinhas com a chuva. palavras que são como ventos que assobiam no que resta das ondas. palavras que são como armas carregadas pela pólvora dos sonhos. palavras que são como as flores que crescem no campo de um sorriso. palavras que são como gente que se alimenta no cadáver de um poema. palavras que me são proíbidas. * 16/03/2004