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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

vinhas do mar....

Janeiro 20, 2021

vinhas do mar

olhavas para longe

e seduzias sem saber

ou talvez soubesses

 

talvez já soubesses

da súbita carícia

no teu sorriso

ou da atração dos lábios

 

imediato feitiço

rápido e ardente

no sangue insinuante

 

talvez já soubesses

que tudo ao teu redor desaparecia

 

- tens um cigarro?

tínhamos procurado...

Janeiro 13, 2021

tínhamos procurado o refúgio noturno da praia. fabricávamos o azul. as minhas mãos alternavam entre as cerejas e o muito húmido mar. estávamos tão juntos. entre nós só cabiam a ternura noturna e o azul. e o vermelho. a confusão dos corpos e o ardor do mar. por vezes, o rumor ou a explosão.

a noite estava plena de lua, os seus braços estendiam-se até ao teu rosto e acariciavam-no, abrilhantando-o com reflexos de prata. o teu rosto sob a lua. fulgurante. claro.

as mãos e as vertigens.

a pele.

lembras-te de como as tuas mãos derramavam desejo?

lembras-te de como as tuas mãos derramavam desejo?

sentia-me mais bonito nas tuas mãos. ainda sinto. máquinas do tempo. viajavam-me nas costas imitando uma fera enjaulada, repetindo incansavelmente o percurso entre cada ombro. só o calor do teu corpo tornava real o momento. tudo o resto me parecia sonho: as cerejas no teu corpo; as estrelas refletidas no teu sorriso; as serpentinas azuis; a textura das tuas pernas.

pensávamos ser ilha.

as ondas marcavam o ritmo do corpo. o ritmo do nosso amor. os teus lábios despertavam arrepios em partes que eu não sabia ter. eu mordia, chupava e saboreava as cerejas. segurava-te os braços contra a areia. forçava-te a unir as mãos sobre a cabeça e mantinha-as algemadas com o meu desejo. naquela posição, quando arqueavas de prazer, os teus seios quase rasgavam a camisa e erguiam-se para a noite como que implorando ar.

tenho sede de ti...

Janeiro 06, 2021

tenho sede de ti, dos cintilantes relâmpagos, de escorregar no fogo. da tua boca húmida. do orvalho e da tua cama. das tuas mãos afiadas. anseio um dia voltar à ondulação grossa na tua língua e à ausência de tempo que os teus olhos conseguem. anseio voltar a pendurar-me no parapeito das janelas no castelo de trigo dourado. se são lágrimas as palavras é porque chove e a minha sede é imortal. amo-te. quer dizer: amo-te. estou submerso e estico o braço, procuro a tua mão entre a chuva.

talvez não o saibas...

Janeiro 05, 2021

talvez não o saibas, mas encontrei em ti a fórmula que transforma toques dos dedos em pólvora, iluminaste a húmida escuridão das grutas e incendiaste os galhos mortos que havia no meu caminho. talvez não o saibas, mas com os teus braços abraço o mundo inteiro.

és profundo florir...

Dezembro 23, 2020

és profundo florir

pétala vermelha

caule do meu desejo

flor acabada de nascer

 

és o lume no meu sangue

e a fagulha na minha boca

as asas do meu voo noturno

e o toque azul do céu

 

tens a transparência dos meus sonhos

no silêncio puro

e no sorriso pleno

 

contigo caminho pela memória

e rio e choro

como se um furacão me habitasse

Escuta, Amor - José Luís Peixoto

Dezembro 22, 2020

Oficina de escrita de poesia à distância com José Luís Peixoto

foto original

Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas de terra.

Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos.

Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti, existe também à nossa volta quando estamos juntos. E agora estamos sempre juntos. O meu rosto e o teu rosto, fotografados imperfeitamente, são moldados pelas noites metafóricas e pelas manhãs metafóricas. Talvez outras pessoas chamem entendimento a essa certeza, mas eu e tu não sabemos se existem outras pessoas no mundo. Eu e tu declarámos o fim de todas as fronteiras e inseparámo-nos. Agora, somos uma única rocha, uma única montanha, somos uma gota que cai eternamente do céu, somos um fruto, somos uma casa, um mundo completo. Existem guerras dentro do nosso corpo, existem séculos e dinastias, existe toda uma história que pode ser contada sob múltiplas perspectivas, analisada e narrada em volumes de bibliotecas infinitas. Existem expedições arqueológicas dentro do nosso corpo, procuram e encontram restos de civilizações antigas, pirâmides de faraós, cidades inteiras cobertas pela lava de vulcões extintos. Existem aviões que levantam voo e aterram nos aeroportos interiores do nosso corpo, populações que emigram, êxodos de multidões famintas. E existem momentos despercebidos, uma criança que nasce, um velho que morre. Dentro de nós, existe tudo aquilo que existe em simultâneo em todas as partes.

Questiono os gestos mais simples, escrever este texto, tentar dizer aquilo que foge às palavras e que, no entanto, precisa delas para existir com a forma de palavras. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento. Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo.
    Escuta,
    ouve.
    Amor.
    Amor.

 

José Luís Peixoto

 

ORIGINAL

.

Dezembro 22, 2020

as ondas marcavam o ritmo do corpo. o ritmo do nosso amor. os teus lábios despertavam arrepios em partes que eu não sabia ter. eu mordia, chupava e saboreava as cerejas. segurava-te os braços contra a areia. forçava-te a unir as mãos sobre a cabeça e mantinha-as algemadas com o meu desejo. naquela posição, quando arqueavas de prazer, os teus seios quase rasgavam a camisa e erguiam-se para a noite como que implorando ar.

.

Dezembro 20, 2020

tínhamos procurado o refúgio noturno da praia. fabricávamos o azul. as minhas mãos alternavam entre as cerejas e o muito húmido mar. estávamos tão juntos. entre nós só cabiam a ternura noturna e o azul. e o vermelho. a confusão dos corpos e o ardor do mar. por vezes, o rumor ou a explosão.
a noite estava plena de lua, os seus braços estendiam-se até ao teu rosto e acariciavam-no, abrilhantando-o com reflexos de prata. o teu rosto sob a lua. fulgurante. claro.
as mãos e as vertigens.
a pele.
lembras-te de como as tuas mãos derramavam desejo?
lembras-te de como as tuas mãos derramavam desejo?
sentia-me mais bonito nas tuas mãos. ainda sinto. máquinas do tempo. viajavam-me nas costas imitando uma fera enjaulada, repetindo incansavelmente o percurso entre cada ombro. só o calor do teu corpo tornava real o momento. tudo o resto me parecia sonho: as cerejas no teu corpo; as estrelas refletidas no teu sorriso; as serpentinas azuis; a textura das tuas pernas.
pensávamos ser ilha.

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