ESPLANADA DE MEMÓRIA - 11
Julho 14, 2023
naquela altura, de noite e acompanhados de um pequeno – mas unido e intenso – grupo de amigos, usávamos um escuro e acidentado caminho no meio do mato para chegarmos a alguns blocos de betão, na margem sul do Tejo e mesmo por baixo da ponte 25 de Abril, blocos que provavelmente teriam sobrado da construção da ponte. o caminho iniciava-se a um nível superior ao das portagens, junto a uma pequena igreja, iluminada nos meses de junho e julho e, nesses meses, visível de noite da A2. para acedermos ao caminho tínhamos primeiro de saltar um pequeno muro na frente da igreja. só depois, já no meio mato, o trilho descia até ao nível do rio. para quem conhece, atravessa a colina onde, na margem sul, a ponte se sustenta. era um caminho tão negro e fantasmagórico que a cada cuidadoso passo nosso uma árvore parecia inclinar-se, abraçar-nos (agarrar-nos) e sussurrar-nos para termos cuidado. lembro bem do grito e imobilidade de um de nós quando um caule se lhe enrolou na canela e ele pensou que fosse uma cobra.