há um silêncio que me desfolha lentamente
como se fosses tu a passar os dedos pelas minhas margens
e eu fosse um livro esquecido numa estante de sombras
o corpo — esse lugar onde a luz se extingue —
abre-se como uma flor que só respira ausência
e tu entras, sem pedir, como o vento que sabe todas as janelas
há um murmúrio de astros na tua boca
e eu bebo-te como quem se afoga num céu sem fundo
sem querer voltar à superfície
a pele aprende o idioma da penumbra
e cada gesto teu é uma constelação que me redesenha
como se eu nunca tivesse sido antes de ti
entrego-me inteiro
como quem se despe para desaparecer
como quem se dissolve no sal de um mar que não tem nome
e tudo o que resta é este lume
lento
a arder no centro do que já não sou
mas que ainda te espera