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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

Asa

Agosto 05, 2025

Depois do Grande Clarão, o mundo não acabou — apodreceu devagar, como carne esquecida sob sol radioativo. A terra deixou de cantar, os rios perderam os nomes e o céu desfez-se em cinzas que nunca assentam. Só as ruínas resistem. E entre todas, a mais viva é esta: a Biblioteca-Castelo de Édros.

 

 

 

Até que o chão de pedra deu lugar a terra seca e fendida. No fundo de uma cripta aberta pelo próprio colapso do mundo, ali estava ela — a nave.

Antiga. De outra era. Coberta por líquenes vermelhos e inscrições que não fui eu que escrevi. A carcaça rangia como se lhe doesse respirar. Mas ainda funcionava. E ainda me obedecia.

Asa recuou, os olhos alargados pela certeza de que não era só o metal que estava vivo — era a nave inteira, faminta.

— Não quero entrar — sussurrou. As palavras saíram-lhe em estilhaços.

Inclinei-me até os nossos narizes quase se tocarem. — Não tens de querer.

Asa

Agosto 04, 2025

A pele dela abriu-se devagar, como fruta madura. De lá saiu um som húmido, quase um lamento. Toquei. A carne tremia, quente, viva. Entrei sem saber se era desejo ou febre.

Ela sussurrou o meu nome com a boca cheia de dentes que não estavam lá antes.

Fiquei.

Talvez por amor. Talvez por não conseguir sair.

Compulsão - Epílogo

Agosto 03, 2025

lá fora, nas copas, os pássaros já estão em alvoroço. pelos furos de ventilação dos estores começaram a entrar olímpicos, mas incómodos, raios de sol. estragaram a penumbra, mas misturaram-se com o pó ambiente e formaram vários caminhos suspensos que evidenciaram a silhueta da Maria.
durante a noite, houve gestos em que ele lhe gravou na pele alguns dos momentos mais eróticos do seu passado, mas agora o furor era a recordação do tempestuoso olhar que ele lhe reconhecia, que conferia ao rosto dela um ar de incessante espanto e lhe imprimia uma expressão de vigorosa líbido.
amo esse teu amor pela total liberdade, mas tenho ciúmes do teu futuro. tenho medo de que venhas a conhecer sensações que eu não consiga igualar.
voltou a usar a ponta da lâmina do xis-ato para destapar a Maria. desta vez por completo e com extrema precaução. desconhecia que ela estava acordada.
por breves momentos, limitou-se ao fascínio. deitou-se, então, ao lado dela, com o xis-ato em punho, erguendo-o e adorando-o como a um sinistro troféu.
passado algum tempo, voltou a sentar-se e acariciou-lhe suavemente o corpo com o xis-ato, iniciando a viagem da lâmina nas pernas dela, passando pelo sexo, pelo ventre, pelos seios e terminando no pescoço.
estava tão fascinado pela nudez da Maria, de olhar tão fixo, que nem reparou que, naquele momento, pequenas lágrimas escorreram discretas pela face dela.
lágrimas discretas,
disfarçadas pela serenidade,
escondidas pela dobra do lençol,
sal do medo que o sol não apaga.
ainda escondida pelo lençol, até muito antes, já havia decidido: fizesse ele o que fizesse a sua entrega seria total – mas nunca imaginou sentir algo tão intenso.
ele via a pele, mas não via o tremor. via o corpo, mas não o peso da entrega. confundiu silêncio com paz e, na verdade, era só medo a sussurrar por dentro. Maria não tremia de frio – tremia por sentir-se sem defesas, exposta. exposta demais.
mesmo assim, ficou.
porque, às vezes, o que assusta também atrai. porque, apesar das lágrimas, havia um desejo antigo de ser finalmente tocada – não só pelas mãos, mas por tudo.
o deslumbramento foi abruptamente interrompido por insistentes e ruidosas pancadas na porta de entrada:
- Quem será a esta hora? – Refilou ele, visivelmente irritado. Ainda pensou em não abrir, mas a insistência das pancadas fez com que mudasse de ideias. Vestiu um roupão e foi à porta:
- Quem é?
- Senhor Bruno Ribeiro? Polícia Judiciária! Importa-se de abrir?

SONHO II

Junho 27, 2025

Voltei a sonhar contigo, docinho.

Acordei com o corpo ainda em brasas e a mente agarrada a cada detalhe teu. No sonho, estavas como gosto de te imaginar: descalça, cabelo solto, olhar meio inocente, meio fatal… e aquele teu sorriso, tão certo do efeito que tem em mim.

Estávamos sozinhos — como deve ser — e bastou um gesto teu, simples, quase distraído, para me perder por completo. Aproximaste-te devagar, sem pressa, com aquele ar de quem sabe exatamente o que está a fazer. Disseste que tinhas saudades da minha boca, e eu nem consegui responder. Os meus lábios encontraram os teus como se tivessem estado à espera a vida toda.

Beijei-te como quem tem fome antiga, e tu devolveste o beijo com essa intensidade doce que só tu sabes dar. As tuas mãos guiaram as minhas com uma confiança que me deixou sem ar. As tuas pernas envolveram-se em mim e, por momentos, tudo o resto deixou de existir. Só me lembro da tua pele quente, do teu respirar no meu ouvido e de como o teu corpo dizia tudo aquilo que as palavras já não sabiam.

Acordei com o teu sabor na boca e um desejo difícil de apagar.

Compulsão - 22

Junho 19, 2025

quando a claridade rompe e as palavras novamente se espantam é que o fascínio me invade. em noites assim dormidas, a poesia nasce-lhe nos dedos e espalha-se no meu corpo como fogo em ceara de trigo. algumas insónias ou vigilantes inquietudes noturnas acontecem porque a silhueta vermelha do seu corpo se deita comigo, como se um violino ecoasse desejo pelo meu corpo.
amo-a. amo


apesar de estarmos à porta de casa dela e de a iluminação pública impedir qualquer sombra de nos proteger, fiquei excitado, tive vontade de lhe rasgar as meias e fazer amor com ela ali mesmo. perguntou-me:


antes de entrarmos a Maria fechou o casaco, olhou para mim e sorriu:
- Há que evitar falatórios. Não custa nada. No outro café não era preciso.
- Preferias ter lá ido, não é?
- Não! Eu o que prefiro é estar contigo!
não! eu o que prefiro é estar contigo!
não! eu o que prefiro é estar contigo!
não! eu o que prefiro é estar contigo!
sorrimos os dois.

 

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Compulsão - 21

Junho 18, 2025

- Maria, lembras-te de me ter pedido para ver o que está debaixo daquele lençol e de eu ter recusado? – Perguntei. – Faz-me um favor, baixa um pouco a luz.

- Claro que lembro. Eu nunca esqueço uma nega. – Respondeu, com um sorriso, enquanto baixava a luz e deixava o quarto mais frio e mais cinzento. sem sombras e sem arestas.

- Não foi uma nega. Simplesmente não era a altura certa. Tira lá o lençol.

foi visível o ar de desilusão na sua cara quando destapou o misterioso aparelho:

 

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R

Junho 17, 2025

Ela apareceu como sempre: primeiro as palavras, depois o corpo.

Chamava-se R — ou, pelo menos, era assim que se deixava chamar. Nunca um nome me soube tão a segredo. Escrevia como quem beija em silêncio, deixando na pele da linguagem uma espécie de perfume antigo, difícil de descrever mas impossível de esquecer.

Não falávamos ao telefone. Nunca nos ouvimos. O nosso “encontro” era todo virtual — ela, num quarto luminoso onde os dias pareciam mais claros do que os meus, e eu, preso ao corpo que me restava. Tetraplégico, com os movimentos limitados ao mais ínfimo gesto. Podia falar, sim, mas a voz não era clara. Sai enrolada, arrastada, quase imperceptível. Uma vez tentei. Fiquei em silêncio desde então. Ela soube respeitar isso — e mais: soube usar isso.

Naquela noite, apareceu diante da câmara com um robe de cetim branco, curto, aberto o suficiente para que os seus gestos se tornassem subtis provocações. O quarto estava inundado de luz quente e ao fundo, tremeluzentes, várias velas acesas deixavam vislumbres dourados nas paredes. Não as acendeu para mim. Sabia que os cheiros não atravessam o ecrã, mas acendeu-as para si. Porque lhe dava prazer. Porque lhe dava corpo. E eu… conhecia-a bem o suficiente para imaginar: cítricos com notas orientais. Como ela — clara e densa ao mesmo tempo.

— Hoje — escreveu-me, antes de se sentar — não quero pressa.

Li no ecrã e o meu corpo, tão imóvel, respondeu com uma agitação interior que nenhuma fisioterapia alguma vez conseguiu provocar.

Ela aproximou-se da câmara, de joelhos no sofá, e com um sorriso que era já uma carícia. O robe escorregou ligeiramente e os seios revelaram-se, redondos, cheios, naturais, belíssimos. Olhei para eles como quem lê um verso que nunca ousou escrever.

“São as mais belas metáforas do mundo”, escrevi-lhe.

Ela riu. Uma ruga delicada formou-se no canto do olho esquerdo.

— E tu és o único homem que me diz isso com essa intensidade... sem sequer abrir a boca.

Não era troça. Nunca era. Havia na sua ousadia uma ternura devastadora, uma sensualidade sem pressa que sabia exactamente onde me doía e onde me acalmava. Tocou-se, levemente. Um dedo entre os seios, depois sobre um mamilo, e escreveu:

— Não queres dizer nada… mas estás todo a olhar.

Inclinei a cabeça, o máximo que consigo. Um gesto mínimo, mas em mim era quase um grito. Ela entendeu. Ela entendia tudo.

— Sabes que podia fazer-te vir sem te tocar, não sabes?

A câmara focava o seu rosto e depois descia até ao peito. A respiração dela era visível, sincopada, lenta. De vez em quando, os dedos percorriam o decote, como se dançassem por cima das palavras que não escrevia.

Escrevi:

“És sempre assim com os outros?”

Ela leu. Ficou em silêncio um instante. Depois respondeu, com um brilho nos olhos:

— És o único homem com quem falo desta forma. Os outros… talvez toquem. Tu… tu lês-me.

Quis perguntar-lhe se era comprometida. Hesitei. Depois escrevi:

“Tens alguém?”

Ela mordeu o lábio inferior. Não pareceu surpreendida. Como se soubesse que essa pergunta chegaria mais tarde ou mais cedo. Mas não respondeu logo.

Afastou um pouco o robe dos ombros. A pele dela tinha a luz exacta de um fim de tarde num quarto fechado. Os seios, agora completamente descobertos, pareciam falar por si.

— Talvez — respondeu. — Talvez esteja comprometida… com alguém que me sabe escrever. E isso é raro.

Sorri com os olhos. Era tudo o que me restava.

Ela percebeu. Pousou a mão entre as coxas, sem pudor. E escreveu:

— Hoje, se quiseres, escrevo só para ti. Até o meu orgasmo será uma carta.

 

Compulsão - 20

Junho 15, 2025

no dia seguinte, estava a preparar o jantar, tocou a campainha.

 

 

- Gostas de coelho assado?

assim que fiz a pergunta arrependi-me. sendo sincero, eu não queria que ela jantasse comigo:

- Sim, muito.

merda!

- Ótimo! Jantas cá, pode ser?

não, não, não:

- Sim.

raios:

- Ótimo!

 

- Pronto, eu recebo mulheres masoquistas e submissas. Comporto-me como um sádico e dominador. Nunca há penetração, mas pode-se dizer que só não há penetração. Vou receber hoje uma pessoa.

o sorriso dela descansou-me, mas a reposta surpreendeu-me:

 

- Espera um pouco, Maria. Deve ser a Naomi.

a Naomi é filha de uma japonesa e de um bracarense. é uma mulher linda, uma asiática - de cabelo escorrido, pintado com um gradiente que começa em azul estridente e termina nas pontas do cabelo em roxo profundo. olhos rasgados, mas cor e brilho de céu – e com pele muito clara. entre outras, mais escondidas, uma tatuagem de uma trepadeira florida, desce-lhe da orelha direita, pelo fino e comprido pescoço, atravessa-lhe o ombro e pinta-lhe o exterior do braço até ao cotovelo:

 

 

 

- É um corta-massa. Serve, por exemplo, para cortar rissóis. E isto, claro, é uma venda!

o meu corta-massa é como uma faca, com um cabo ergonómico de plástico, tendo, em vez da lâmina, uma roda dentada com dentes bem afiados. coloquei-me atrás dela, vendei-a e despi-lhe o avental. com o corta-massa a pressionar-lhe a pele, segui-lhe a tatuagem no pescoço, de cima para baixo e, chegado ao cotovelo, voltei ao ombro e comecei a descer, passando pelo seio, em direção ao ventre. quando o corta-massa lhe tocou o mamilo, a Naomi soltou um ligeiro gemido:

 

braços levantados e presos a um ramo por uma corda –, por trás dele um outro homem castigava-o, chicoteando-o.

 

- Não gostei nada daquele gemido. És uma gatinha malcomportada, tens de ser castigada. Sabes que se eu te cortar a jugular morres em menos de um minuto? Se eu – a minha mão abandonou a exploração que estava a fazer dos seus pelos púbicos, deslizou na sua pele e alojou-se no seu coração -, no entanto, te esfaquear aqui a morte é imediata e indolor. Eu preferia golpear-te na barriga. Talvez nem morresses e eu pudesse deliciar-me com a tua expressão de dor e com o contorcer do teu corpo comigo dentro dele. vira-te, debruça-te e apoia-te na cama!

ela obedeceu:

- Maria, abre essa gaveta e tira de lá o chicote. É

 

- Bruno, se me vai penetrar com isso, já posso gemer?

- Não! – Mostrei-me surpreso e respondi, com autoridade e cara de poucos amigos. – Claro que não!

sem que a Naomi notasse,

 

a Maria estava imóvel, de pé, ao lado da cama e olhava para a Naomi com um sorriso e um, indisfarçável, ar triunfal.

 

 

 

 

 

 

 

 

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As mensagens são privadas e, se usarem dados fictícios, totalmente anónimas.

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