tens a pele que percorro nos sonhos. a lisura por onde, todas as noites, escorrego até ao campo de tulipas lilases no teu ventre. na difícil espuma da rebentação, na intacta memória e na geometria do corpo, a tua pele é a colher cheia de mel, a estrada lisa que me liga ao amor.
tens a voz que se eleva do mar como se fosse o Sol a nascer no horizonte. sei, pelos arrepios que me provoca, que é a tua voz, mas vejo-a como manta solar ou como eterna fogueira que me arde no sangue. é um mundo de gemidos que me penetra pela mente e ocupa todos os caminhos até ao coração.
é tão óbvio que já deve ter sido dito: lembrar-te no passado, permite-me desejar um futuro contigo presente. no teu sorriso longo, fulgor que vai além do infinito, fica o nascimento. sonho em descer as suas vertentes e navegar nos teus lábios até às margens do teu beijo. por enquanto, tenho apenas o silêncio ardente dos pássaros, a solidão das estrelas e a cruel navegação da saudade no corpo. é silêncio o rumor do mar na geometria do teu sorriso. a única lei que existe é a do teu sorriso, é nele que repousam o infinito e o sonho, é a ele que devemos as serras e a poesia. sem ele eu sei que nada morre, mas os rios secam e o ar rareia, sem ele sobra apenas a cegueira.
em cada um dos teus olhos, permanentes quimeras que o universo desenha na minha cama com dedos de fogo, é possível adivinhar o lume e conseguem-se ver o mar, os rios e a terra molhada.
só nas nuvens se consegue escrever as tuas mãos e apenas no calor é que elas se movem lentas. inerente ao prazer do toque está a tua respiração e a energia que ela transmite e revela aos sismos.