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Red Tales

(...) cá estou eu, por aqui, a fingir que sou eu que por aqui estou (...)

Red Tales

>> Cuidemos de Todos Cuidando de Nós <<

 

Alguns dos textos aqui contidos são de cariz sexual e só devem ser lidos por maiores de 18 anos e por quem tiver uma mente aberta. Se sentir algum tipo de desconforto com isso ou se não tiver os 18 anos ou mais, por favor SAIA agora.

não sei como recordas esses momentos....

Março 11, 2021

não sei como recordas esses momentos nem, sequer, sei se os recordas, mas eram a tua cara de prazer e os teus olhos fechados que me encorajavam e guiavam os gestos. foram eles a tirar-me a mão de dentro da tua camisa e a dizer-lhe para descer. obedeci-lhes. lentamente. dando-te tempo de perceber e autorizar. arqueavas e contorcias o corpo. sorrias. a minha mão chegou ao destino. tocou-o e sentiu o teu deleite através das calças.

és profundo florir...

Dezembro 23, 2020

és profundo florir

pétala vermelha

caule do meu desejo

flor acabada de nascer

 

és o lume no meu sangue

e a fagulha na minha boca

as asas do meu voo noturno

e o toque azul do céu

 

tens a transparência dos meus sonhos

no silêncio puro

e no sorriso pleno

 

contigo caminho pela memória

e rio e choro

como se um furacão me habitasse

.

Dezembro 10, 2020

olho o mar: cada onda me recorda a primavera, arqueada na tua pele. o branco: a rebelião no teu grito, a avidez dos dedos a penetrarem a juventude. o azul: sereno, infindável, forte. a recordação da tua voz.

o persistente e fresco perfume, deixado pelo sal e pelos teus olhos fechados, era o hálito do nosso desejo. a fagulha. o princípio do fogo, o início do infinito. o lume no nosso sangue. momentos cálidos em que os gestos de cada um eram os gestos do outro e, outra vez, o mar. agora, nos teus dedos.

o amor era urgente e tu eras urgente. era urgente a certeza da incerteza e, outra vez, o mar. dos dedos aos lábios.

carta

Dezembro 09, 2020

Fico triste. Fico triste por saber que as minhas palavras não atingem o lugar onde guardas a minha culpa. Não são capazes de a embrandecer. Não recuperam, nem sequer tocam, lágrimas endurecidas. O lugar onde repousam e festejam não se cruza com o perdão e, mais que me entristecer, isso quase me revolta e, admito, baralha-me, pois, apesar de esse ser um bom motivo para deixar de te amar, não consigo fazê-lo.

Disseste-me que destruí – e eu acredito nisso. Eu não sabia. Havia tanto desconhecido. Tanto tempo ainda por nascer. Só o branco da tua pele, como pérolas. Os dias passavam e a tua voz era cada vez mais. Tive medo – o Sol. Nunca to disse: havia lágrimas. Há uma promessa. Eu desconhecia e tu disseste-me e eu tive medo. Os dias eram sorriso e as noites eram demasiado perfeitas. Eu não sabia e agora resta-me a crueldade de um tempo sempre lento. Queria ter sabido. Como sabia o caminho. Como sabia das árvores, dos rios e das dunas. E do sabor.

Tenho a sensação de que, depois de ti, a minha vida se tornou uma sequência de acontecimentos aleatórios e sempre inacabados. Depois do teu, nenhum corpo me parecia um corpo. A tua boca. Os teus pés. A forma lenta dos teus braços. A quase transparência e o para sempre.

Fico tão triste que as minhas palavras ou o infinito não abrandem a culpa.

.

Dezembro 09, 2020

da tua pele derrama um enérgico perfume a florir. nela, arquétipo do cetim, o voo atabalhoado da respiração. sei ser impraticável esquecê-la. é, em mim, profunda floresta. com nevoeiro rasteiro, mas com o esplendor a brilhar intensamente por cima das copas. e queima. é preciso ser alto.

do teu corpo o fulgor. mão na anca e dança ansiosa. o imaginado entra e sai. ruborescer. seguro e beijo e sufoco nas pérolas. os meus dedos alongam até mergulharem. até se esconderem no ninho dos segredos.

a tua boca, esfomeada e entreaberta, a desenhar-me mistérios no peito e nas pernas, a tua língua. os teus olhos cintilantes, os lábios, o mar e o perpétuo movimento. o meu corpo rendido. trémulo. húmido e longo.

recordar as flores. a crescerem-te lentas ao meu toque. recordar o gemido e o sorriso. os suores misturados e as chamas (o contorcer ritmado das chamas) e o segurar do orgasmo entre as pálpebras. recordar o imperecível recomeço e chorar.

.

Dezembro 04, 2020

és no meu sangue a mais perfeita recordação do fogo

o intenso lunar fulgor dos pássaros adormecidos

em ramos eletrificados pelo corpo denso das palavras

 

és a lentidão do infinito e a brevidade das ondas

o voo rasante dos gemidos derramados pela boca

e a curva serena na pele dos poemas escritos

.

Dezembro 02, 2020

sinto falta da tua voz. da ternura com que me embalava. da serenidade com que sorria na minha face e pintava quadros coloridos nos meus sonhos. sinto falta de regressar às tuas mãos; dos teus dedos a desenharem luas e estrelas no ar; dos arrepios. abraço a memória e é como se o mar me estivesse entre os braços, como água. o nosso mar. os teus dedos. a recordação do teu sorriso. da forma erótica dos teus olhos. da maneira como, com eles, engolias o mar. da maneira como, com eles, me engolias. sinto falta do sabor a fruta madura da tua boca.

.

Novembro 27, 2020

tens a pele que percorro nos sonhos. a lisura por onde, todas as noites, escorrego até ao campo de tulipas lilases no teu ventre. na difícil espuma da rebentação, na intacta memória e na geometria do corpo, a tua pele é a colher cheia de mel, a estrada lisa que me liga ao amor.

tens a voz que se eleva do mar como se fosse o Sol a nascer no horizonte. sei, pelos arrepios que me provoca, que é a tua voz, mas vejo-a como manta solar ou como eterna fogueira que me arde no sangue. é um mundo de gemidos que me penetra pela mente e ocupa todos os caminhos até ao coração.

é tão óbvio que já deve ter sido dito: lembrar-te no passado, permite-me desejar um futuro contigo presente. no teu sorriso longo, fulgor que vai além do infinito, fica o nascimento. sonho em descer as suas vertentes e navegar nos teus lábios até às margens do teu beijo. por enquanto, tenho apenas o silêncio ardente dos pássaros, a solidão das estrelas e a cruel navegação da saudade no corpo. é silêncio o rumor do mar na geometria do teu sorriso. a única lei que existe é a do teu sorriso, é nele que repousam o infinito e o sonho, é a ele que devemos as serras e a poesia. sem ele eu sei que nada morre, mas os rios secam e o ar rareia, sem ele sobra apenas a cegueira.

em cada um dos teus olhos, permanentes quimeras que o universo desenha na minha cama com dedos de fogo, é possível adivinhar o lume e conseguem-se ver o mar, os rios e a terra molhada.

só nas nuvens se consegue escrever as tuas mãos e apenas no calor é que elas se movem lentas. inerente ao prazer do toque está a tua respiração e a energia que ela transmite e revela aos sismos.

MEMÓRIA DO FOGO

Novembro 25, 2020

a noite traz sempre

a alegria da memória.

em tantas te beijei.

eras tu, eu e ela.

nos caminhos do mar,

nas areias.

lembras-te?

 

lembro que

a tua língua

era a pele ligeira

de um pêssego

e que os teus lábios

eram a provocação das rosas:

o nosso infinito é agora,

dia e noite e dia.

.

Novembro 24, 2020

escrever-te é muito complicado, meu amor:

o sabor permanece e tropeço no fogo

a cada palavra. a memória da tua boca.

 

uma paragem: um verso demora o teu cabelo

e um poema é a eternidade da tua pele.

 

tenho o teu sorriso tatuado nos dedos

e cada palavra o floresce nos meus olhos.

 

os teus lábios. as tuas mãos acordadas no meu corpo.

 

é fácil escrever-te.

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